Permanência de indígenas no ensino superior é o novo desafio a ser enfrentado

Em 15/07/11 06:25.
Em mesa-redonda, Mônica Thereza Soares (UFG) e Antonio Jacó Brand (UCDB) relataram suas experiências na formação acadêmica de índios


A inclusão de indígenas no meio acadêmico foi o tema de discussão da mesa-redonda “Antropologia e Educação Intercultural: Abertura da Universidade aos Povos Indígenas”, realizada na tarde do dia 14 de julho, como parte da programação da 63ª Reunião Anual da SBPC, em Goiânia. Na mesa, Mônica Thereza Soares Pechincha e Antonio Jacó Brand relataram como se dá o processo de inclusão e apresentaram os desafios que ainda necessitam ser superados.


Antonio Brand, historiador e coordenador do Programa Kaiowá/Guarani da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), apresentou uma extensa pesquisa realizada em Mato Grosso do Sul, no ano de 2009, sobre a formação acadêmica de indígenas. Segundo ele, os maiores obstáculos não estão mais em permitir o acesso destes povos à universidade, mas garantir que eles permaneçam estudando. Muitos desistem devido à falta de estímulo, de identificação com o curso e à dificuldades financeiras, dentre outros fatores.


A pesquisa aponta que a maioria dos indígenas cursando o ensino superior ainda mora em aldeias, tem preferência por cursos de Licenciatura Intercultural e Pedagogia e encontra-se fora do mercado de trabalho. Apesar disso, o estudo indicou que o desejo da maioria é continuar estudando após a graduação, e já existe um número crescente de indígenas buscando cursos de pós-graduação (mestrado).


A fala do historiador revela que embora encontrem inúmeras dificuldades ao longo dos anos de faculdade, os índios reconhecem a importância da formação acadêmica tanto para sua realização pessoal quanto para a proteção de suas aldeias. Brand relatou que recentemente acadêmicos da UCDB que não falam a língua de seu povo requisitaram um curso de línguas indígenas junto à Universidade e foram atendidos. Situações como esta evidenciam a preocupação destes acadêmicos com sua história e tradições.

 


Ele apresentou ainda ações bem sucedidas que podem garantir a permanência dos índios na universidade. Cursos de suplementação em redação são de extrema importância já que eles têm a língua portuguesa como segunda língua. Além disso, monitoria aos acadêmicos com dificuldades em determinadas disciplinas também é capaz de evitar a evasão escolar.


Brand criticou os cursos de Direito que embora possuam representantes destes povos entre seus alunos, não incluem a legislação indígena em sua grade curricular. Assim, os índios formados nestes cursos não possuem conhecimentos necessários para atuar a favor de sua própria história. Ainda que tenham sido criados cursos de extensão em Direito Indigenista para suprir esta carência, o ideal é que a disciplina seja permanente nos cursos de graduação.


A antropóloga Mônica Thereza Soares Pechincha informou que atualmente existem 13 povos no curso de Licenciatura Intercultural de Formação de Professores Indígenas da UFG, do qual é professora, somando 215 estudantes. No Brasil, existem 23 cursos em 21 universidades, com o total de 2.900 índios no ensino superior.


Ao final da mesa-redonda, Antonio Jacó Brand lembrou que os acadêmicos indígenas são portadores de múltiplas identidades e para ensiná-los algo deve-se primeiro conhecer quais são os seus anseios. Eles não desejam livros traduzidos, e sim assumir o papel de articuladores de conhecimento, traduzir o que aprendem para o contexto de suas aldeias.


Ainda que seja imprescindível para o desenvolvimento de um país econômica e socialmente equilibrado, a presença de poucos não-indígenas na platéia da mesa-redonda mostra o quanto a inclusão destes povos no meio acadêmico ainda é uma discussão fechada, da qual a sociedade parece que não querer participar.

 

Fonte: Ascom/UFG

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