62_Anos_Homenagem_Pioneiros (5) - Edward_Madureira

Carta aos que abriram caminhos para uma grande UFG

Em 15/12/22 11:35.

Discurso proferido pelo professor Edward Madureira durante a solenidade de 62 anos da UFG e homenagem aos veteranos

"Se as coisas são inatingíveis... ora!

Não é motivo para não querê-las...

Que tristes os caminhos, se não fora

A presença distante das estrelas!"

Mário Quintana 

 

A UFG certamente foi sonhada por décadas, a semente foi plantada  nos primórdios do curso de Direito em nossa antiga capital ainda no século XIX. Sem dúvida, muitas foram as iniciativas desde então. Idealistas plantaram de forma independente as sementes de nossa Instituição e assim se materializaram os cursos de Farmácia, Odontologia, Engenharia, Música, Artes, Medicina e tantos outros que mesmo não estando presentes no momento da criação, já estavam gestados em mentes inquietas e brilhantes. 

Quanta ousadia, determinação, senso de oportunidade, destemor, desprendimento, dedicação, compromisso social e acima de tudo amor a uma causa, e porque não dizer de utopia em seu significado mais completo, foi necessária a esses homens e mulheres para que em 14 de dezembro de 1960 fosse criada nos confins do País, em pleno sertão onde há pouco habitavam apenas os nossos povos originários uma instituição que mudaria de forma definitiva o destino de nossa terra e do nosso povo. Somente vocês que desbravaram esse caminho podem nos contar o quão difícil foi dar os primeiros passos e construir os alicerces de uma fortaleza indestrutível em meio a condições tão inóspitas. Se olharmos com atenção as condições nas quais a UFG foi concebida e criada, facilmente os incrédulos atribuiriam aos nossos precursores a pecha de insanos. Para isso bastaria somar a triste realidade vaticinada pelo grande Darcy Ribeiro que perdura até hoje de que a “crise da educação no Brasil, não é uma crise; é um projeto”, à instabilidade política já prenunciada à época que levaria ao golpe de 1964 trazendo os horrores da ditadura militar que além de torturar e matar nossas lideranças, privava a universidade de sua essência, qual seja a liberdade de pensamento e de expressão.

A interrupção do jornal 4º Poder, o encerramento das atividades do Centro de Estudos Brasileiros (CEB), a intervenção na gestão da Universidade, a presença de agentes de espionagem infiltrados na comunidade estudantil e entre os que aqui trabalhavam compunham esse ambiente inóspito no qual foi forjada a nossa Instituição. Reconhecer essas pessoas que de forma explícita ou anônima com o seu labor e a dedicação intensa nos melhores anos de suas vidas viabilizaram essa utopia, é o mínimo que podemos fazer por vocês. Nas últimas semanas, nós que recebemos da reitora Angelita e do vice-reitor Jesiel, a missão de construir esse momento, tivemos o privilégio de mergulhar ainda que superficialmente na riqueza desse oceano de histórias maravilhosas repletas de emoção e muito, muito, muito amor a UFG.

A história de nossa Instituição é marcada por enfrentamentos, e olho para cada um dos ex-reitores aqui presentes e também para aqueles que nos deixaram, e quase consigo ler os seus pensamentos, imaginando o que cada um passou nos anos que teve sob sua responsabilidade os destinos de nossa querida Instituição. Quantas vezes nos vimos em encruzilhadas e diante de decisões irresponsáveis e medidas absurdas determinadas por aqueles que queriam destruir nossa utopia. Por um instante, sensações como a solidão e a insegurança, invadem os nossos pensamentos, mas basta lembrar da utopia que moveu o ser humano a criar a mais fantástica das invenções do homem que é a universidade, olhar para a nossa, apesar de ainda curta mas exemplar história, se inspirar em nossos antigos guerreiros aqui representados por vocês e reunir os guerreiros do agora, que jamais se furtam à luta, para que  reunamos forças para superar quantos obstáculos se colocarem diante de nós, independentemente do tamanho dos mesmos.

Dessa forma vencemos os anos sombrios do início da nossa trajetória, as irresponsabilidades dos déspotas travestidos de democratas do início do processo de redemocratização do nosso País, o negacionismo e os inúmeros ataques à autonomia universitária dos últimos, além dos absurdos e sórdidos ataques simbólicos à instituição. A universidade foi essencial para que superássemos os tempos de trevas que começaram a ser afastados, espero que de forma definitiva, no último dia 30 de outubro. A esperança se apresenta com força e não tenho dúvidas de que teremos um papel fundamental na retomada do processo civilizatório a partir do dia primeiro de janeiro de 2023.

Com a força da utopia de um mundo mais justo, fraterno, em que as pessoas sejam respeitadas e valorizadas pelo que são e do jeito que são, que de um mundo que respeite o meio ambiente e que valorize a cultura e a história dos povos e sabendo que a universidade é a portadora maior desses valores, pois transcende temos aqui nesse momento o contínuo da história, representado pelo passado que abriu os caminhos e os pavimentou e ensina a nós do presente que temos a responsabilidade de cuidar desse patrimônio único e de valor inestimável para a civilização e entregá-lo logo ali para o futuro que também se faz presente na razão maior de ser da instituição que são os nossos queridos estudantes. Vocês que estão aqui hoje conhecendo um pouco da nossa história e ao mesmo tempo construindo, estarão aqui amanhã em nossos lugares ou em outros com a responsabilidade de conduzi-la e depois de amanhã estarão ali em lugar de honra a contemplar a grandeza e a relevância dessa obra. Assim essa utopia se perpetua, assim, repito, a maior invenção do homem se torna eterna, indestrutível, transformadora e essencial na emancipação do ser humano.

 

Fonte: Edward Madureira

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