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Faculdade de Educação debate violência policial

Em 30/06/17 09:57.

Ato foi feito em solidariedade a Matheus Ferreira, estudante agredido na manifestação de 28 de abril

Texto: Patrícia da Veiga

Fotos: Carlos Siqueira                                                

Às vésperas de mais uma Greve Geral convocada por movimentos sociais e organizações de trabalhadores contra as reformas previdenciária e trabalhista, em tramitação no Congresso Nacional, o que esperar da polícia? Que riscos correrão os manifestantes? E como enxergar e interpretar a violência policial cotidiana? Tais questões foram discutidas nesta quinta-feira (29/6), na Faculdade de Educação (FE), durante o evento “Reformas neoliberais, desmonte da democracia e violência”.

O debate foi organizado pelo projeto de extensão Estante Solidária e prestou homenagem ao estudante da Faculdade de Ciências Sociais (FCS) Matheus Ferreira da Silva, 33 anos, agredido no ato do dia 28 de abril por Augusto Sampaio de Oliveira Neto, capitão da Polícia Militar. Ainda se recuperando, o rapaz falou sobre o sentimento que teve ao ver as imagens do episódio. “Não me lembro, mas pelos vídeos é muito marcante quando acontece a agressão: os policiais vão embora e eu fico caído no chão”, descreveu, emocionado. Para ele, essa é uma evidência de que a violência que sofreu foi intencional. “É uma desqualificação do sujeito. Que importância tem essa pessoa que apanhou e foi largada no chão, à luz do dia?”, indagou.

Para o estudante, além do descaso, o policial que o espancou demonstrou certeza de que não seria condenado socialmente pelos seus atos. “A gente percebe também que os agressores não se preocupam com a opinião pública. Isso tem um embasamento, algo alimentado pela própria sociedade”, afirmou. Esse apoio explícito à ação truculenta de agentes públicos, segundo ele, é reforçado a partir de uma ideologia, um amálgama discursivo que inverte a ordem dos fatos e autoriza a violência institucional.

 

 

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Estudante de Ciências Sociais, Matheus Ferreira recebeu apoio e relatou sua experiência em evento na FE

 

A polícia, assim, age conforme orientações do Estado, de forma a reprimir movimentos sociais. Em um sentido aproximado opinou o professor da FCS Dijaci David de Oliveira, que também compôs o debate. “A ‘inteligência’ da Polícia Militar de Goiás investiga e ameaça manifestantes constantemente. Dentro da universidade temos casos de colegas que recebem relatórios com informações confidenciais sobre si mesmos, para saberem que estão sendo vigiados”, denunciou.

Mas qual seria o interesse institucional de promover a violência? A professora Anita Cristina Azevedo Rezende, da FE, respondeu a essa questão a partir de uma análise de conjuntura. “Matheus não está fora do mundo e nem da história. Esse desastre social que nós vivemos não é um incidente, tampouco faz oposição ao projeto civilizatório da ordem do capital", explicou.

Segundo ela, a violência está na origem e no desenvolvimento do modelo de vida que se fez único no mundo, produzindo desigualdades que o Estado não consegue e nem pretende resolver. Assim sendo, a repressão e a violência seriam necessárias para conter as revoltas populares, sobretudo, em tempos de crise e consolidação de um projeto político conservador e neoliberal. “Uma das teses que defendo é que os neoliberais não lutam contra o Estado, que realiza na origem seus interesses, lutam contra qualquer indício democrático que ameace a potencialização de seus lucros. Para tanto, contam com a violência legitimada do Estado e com a privatização da administração da violência”, encerrou.

 

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Miniauditório da FE durante debate sobre violência policial

Fonte: Ascom/UFG

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