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Circuito da Ciência aproxima educação básica e Universidade

Em 29/11/22 14:18.

8ª Mostra de Divulgação Científica é uma realização do PPGCB/UFG em parceria com a Proec

Texto: Eduardo Borges

Fotos: Julia Barros

"A principal característica de um cientista é ser curioso e isso todas as crianças são". É o que defende a professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Raphaela Georg, que é também coordenadora da 8ª Mostra de Divulgação Científica e de Popularização da Ciência para a Educação Básica, promovida pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas (PPGCB/UFG) desde o ano de 2014. O evento ocorre anualmente junto ao Conpeex ou durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Nesta oitava edição, a Mostra recebeu estudantes dos ensinos fundamental e médio de escolas públicas de Goiânia, com o Circuito da Ciência, que contou com estações temáticas que proporcionaram experiências que uniram teoria e prática. 

 

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UFG recebeu estudantes de escolas públicas goianas dos ensinos fundamental e médio

 

A pró-reitora de extensão e cultura da UFG, Luana Cássia Miranda Ribeiro, relatou que a Proec forneceu todo o apoio necessário para a realização da mostra, justamente por conta de seu teor de relevância. "É muito importante que essas crianças já sejam mobilizadas para conhecer um pouco de ciência. Nós [da Proec] incentivamos ações que tenham esse contato com a comunidade externa e especialmente as crianças, que daqui a pouco são o nosso futuro", afirma Luana.

A mostra

Raphaela Georg, revela que, apesar do evento ter começado em 2014, foi em 2018 que conseguiram um financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) para fazer o evento em uma amplitude maior, assim como o realizado neste ano. O projeto surgiu como uma forma de aproximar a Universidade da educação básica, que era uma das diretrizes da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), tentando fomentar esse laço por meio dos programas de pós-graduação. 

"Na verdade, eu diria mais para nós chegarmos até eles do que eles [estudantes] virem até nós. Temos esse propósito de mostrar a Universidade para eles, as pesquisas que são realizadas e aproximar a realidade da ciência com o cotidiano deles. Então, na mostra, fazemos experimentos que tenham a ver com o dia a dia deles, tomando como base diferentes áreas", completa.

A mostra apresenta experiências que são simples do ponto de vista da compreensão, mas que permitem maiores explicações científicas. Para a professora, o objetivo é cativar os estudantes por meio dessas atividades, além de mostrar a importância da ciência, tendo também como finalidade, a quebra de estereótipos.

"É importante desmistificar essa ideia de que o cientista é um ser excêntrico, sempre com trejeitos, etc. Queremos mostrar que os cientistas na verdade são pessoas comuns e que, inclusive, eles mesmos [os estudantes] podem exercer a profissão se desejarem um dia. Temos uma cartilha que entregamos para esses estudantes falando sobre o que é ser cientista e esse material é também uma colaboração com a Proec que nos ajuda com a impressão e distribuição. A cartilha é fruto de uma palestra que eu ministrava nas primeiras Mostras. Resolvemos então transformar o conteúdo em um folder para ficar mais fácil a discussão e mostrar que a principal característica de um cientista é ser curioso e isso todas as crianças são", explica a professora.

Estações 

Na edição deste ano, a mostra contou com oito estações, cada uma trabalhando um tema diferente com atividades para os estudantes, sob comando de discentes da UFG de cursos de graduação e pós-graduação do ICB. As estações foram: DNA, Reprodução, Cérebro, Moléculas, Radicais Livres, Microrganismos, Músculo e Coração.

Assim como explicado pelo discente do curso de Ciências Biológicas licenciatura do ICB, Gustavo dos Santos, a Estação DNA mostrou para os estudantes como são realizados os trabalhos da área no Departamento de Genética da UFG. Já que o DNA é uma molécula portadora de todas as informações, é necessária sua extração por meio de um processo que foi exemplificado usando uma banana. Assim, foi possível apresentar de forma lúdica as etapas feitas no dia a dia dos profissionais. Ao fim da experiência, os estudantes puderam participar de uma dinâmica que consistia em apontar qual era o par da base nitrogenada, ganhando jujubas se acertassem. Já a Estação Reprodução apresentou as fases da embriogênese, que é basicamente a formação de um ser humano, como explicado pela mestranda do ICB, Giovanna Amaral Rodrigues. Quatro microscópios foram dispostos, cada um contendo partes de estruturas relacionadas à reprodução, como o ovário e a próstata.

 

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 Estudantes puderam conferir de perto como funciona um microscópio

 

A Estação Cérebro expôs todas as estruturas do órgão, com explicações sobre a função de cada parte. A mestranda do ICB, Jhulle Carvalho, ressaltou que aproveitaram a estação para mostrarem também um pouco do trabalho do laboratório da UFG onde são testados novos remédios para ansiedade e depressão. Foi explicado o processo de como fazem os testes em ratos e camundongos, posteriormente sendo exibidas as diferenças entre o cérebro dos roedores e o humano. Esta foi a estação preferida da estudante de 11 anos da 5ª série da Escola Municipal Brice Francisco Cordeiro, Geovanna Oliveira Dias. "Eu gostei muito da Estação do Cérebro, porque aprendi muitas coisas lá sobre os ratos e os outros temas. De um modo geral, eu gostei bastante da mostra, adorei os brindes e vou até fazer os experimentos em casa. Quero voltar aqui quando tiver mais desse evento”, afirma Geovanna.

Os experimentos mencionados pela estudante foram os pontos altos da mostra. Um dos mais assistidos foi o da Estação Moléculas, que trabalhou os conceitos de substâncias ácidas e básicas, que são temas recorrentes nas matérias de ciências e biologia dos ensinos fundamental e médio. A doutoranda do ICB, Bárbara Gonçalves, explicou que usaram suco de repolho para fazer os experimentos, adicionando vinagre e bicarbonato de sódio para apresentar as reações e diferenciar PHs. A Estação Radicais Livres também trabalhou temas reativos, sobretudo com o oxigênio. O estudante de biomedicina da UFG, Paulo Vinicius Ferreira, comentou que o objetivo foi debater sobre substâncias que reagem em nosso corpo e como os antioxidantes interagem para evitar que o oxigênio roube elétrons e acabe levando ao estresse oxidativo. 

Na Estação Microrganismos, foram apresentados fungos e bactérias e suas diversas aplicações, seja na biotecnologia com a produção de compostos como o etanol ou na conservação de alimentos. A pós-graduanda do ICB, Danielle Santos, ressaltou também a utilização de microrganismos na indústria farmacêutica e na agricultura, com a diminuição de agrotóxicos para uma melhor qualidade de vida. Outro estande que trabalhou temas de saúde foi a Estação Músculo, sob organização do docente do ICB, Diego Colugnati, oferecendo uma experiência com estimulação elétrica que produzia contrações involuntárias nos participantes. Por fim, a Estação Coração trabalhou temas referentes ao sistema cardiovascular, apresentando a anatomia do coração humano e suas funcionalidades. Após as explicações, foram aferidas a frequência cardíaca dos estudantes, pressão arterial e fornecido até mesmo um ecocardiograma. O docente do ICB, Carlos Castro, ressaltou que essas ações foram pensadas para que os estudantes pudessem ver formas de avaliação das funções cardiovasculares.

 

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Estação Coração proporcionou conhecimentos e serviços

 

Oportunidades

A estudante de 17 anos do 3º ano do ensino médio do Colégio Estadual Aécio Oliveira de Andrade, Kaylanne Vasconcelos, afirma que ações como a mostra são aliadas do ensino público, justamente por conta da falta de investimentos. "Como a gente não vem de uma família boa financeiramente, nem de um colégio que tem uma estrutura com laboratórios grandes, nem que incentivam questões relacionadas à Enem e faculdade, quando participamos de projetos como estes, isso nos dá incentivo. Ir na Universidade, ter contato com pessoas que já fazem cursos superiores, saber o que eles fazem na prática, tudo isso abre uma nova visão de mundo para nós estudantes", destaca Kaylanne. 

Em consonância com as palavras de Kaylanne, a professora Lorrayne Bianchi, também do Colégio Aécio, ressalta que a mostra é uma experiência que move os estudantes para a realidade do ensino superior, proporcionando novos conhecimentos e vivências. "A maioria dos nossos estudantes nunca visitou uma exposição e nem veio até a UFG. Conhecer esses ambientes contribuem até mesmo com sua escolha profissional mais para frente. Isso faz toda a diferença", defende Lorrayne.  

 

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Discentes do ICB acompanharam os estudantes em todas as etapas dos experimentos 

 

Para a professora da Escola Municipal Brice Francisco Cordeiro, Erika Silva, o principal mérito de ações como a Mostra é a junção de teoria e prática. "Os alunos estudam na escola com livros. Podemos fazer maquetes e produtos do tipo, mas eventos assim são diferentes. É importante vir aqui na Universidade, num ambiente científico para que tenham mais noção do que é ciência, do que é a pesquisa. E a UFG é muito perto da escola [Brice], porque estamos aqui na Vila Itatiaia. Então, essa proximidade é muito boa para os estudantes, porque a universidade pode oferecer muitas coisas para ajudar no desenvolvimento desses jovens", relata Erika.

A  professora do Colégio Estadual Professor Vitor José de Araújo, Oneida Pereira, reforça o que foi dito por Erika e complementa afirmando que a mostra incentiva que as escolas façam seus próprios eventos. "Nós já tivemos a ideia de fazer um circuito desses mas não fizemos ainda. Participar aqui traz ideias para que possamos fazer com os nossos estudantes. Ações assim são muito importantes, porque os fazem ter outra visão da ciência. Quando o professor estiver ministrando a aula, eles vão lembrar desta Mostra e ter uma perspectiva maior daquele assunto. Aqui eles viram experiências sendo realizadas que na escola não dá tempo de fazer. Essa mostra é uma grande oportunidade", afirma Oneida.

Aproximações

Para a professora Raphaela Georg, a ação cumpre com seu objetivo ao justamente estabelecer aproximações entre Universidade e educação básica, algo que é essencial para se entender a realidade dos estudantes, sobretudo oriundos de escolas públicas. No entanto, há muito o que se trabalhar, pois os laços precisam ser reforçados. 

"Uma pergunta frequente desses estudantes é sobre quanto se paga para fazer faculdade na UFG. Sempre respondemos que não paga nada e isso mostra que ainda precisamos aproximar muito a Universidade da educação básica para poder mostrar que a educação superior é para todos e construída por todos. Não é uma entidade que surgiu do nada. Ela é construída pela comunidade, docentes, discentes, funcionários e demais agentes", completa Raphaela.

Outro ponto destacado pela professora é o apoio do CNPq à partir de 2018, que possibilitou a criação de bolsas de iniciação científica destinadas a estudantes do ensino médio. Durante a mostra, são selecionados bolsistas para fazerem projetos de pesquisa na UFG durante o período de um ano, para vivenciarem a realidade científica da universidade, dentro do contexto da educação. 

"A mostra é algo que fazemos com carinho e muito orgulho. A empolgação dos estudantes é o nosso combustível para continuarmos, porque vemos os olhinhos brilhando. É o que nos move e nos faz ter a intenção de cada ano possibilitar o maior número possível de estudantes. Neste ano, tivemos nosso recorde de participantes. Foram mais de 1.200 inscritos para participar, então é uma satisfação muito grande podermos realizar esse evento em parceria com a Proec, que foi uma grande parceira", finaliza Raphaela.

Fonte: Secom UFG

Categorias: Notícias ICB Conpeex 2022