Cerrado Dpat

Plataforma Cerrado Dpat avalia evolução do desmatamento

Em 14/10/20 17:58.

Ferramenta foi lançada durante webinar com a participação dos parceiros Inpe, Banco Mundial e MCTI

Texto: Versanna Carvalho

A quarta-feira (14/10) foi marcada pelo lançamento on-line da plataforma Cerrado Dpat (Deforestation Polygon Assessment Tool), que pode ser traduzido do inglês como ferramenta de avaliação do polígono do desmatamento. O projeto é uma iniciativa do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento, vinculado ao Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (Lapig/Iesa/UFG).

Cerrado Dpat

Área de abrangência do bioma Cerrado (Imagem: Cerrado Dpat)

A plataforma Cerrado Dpat foi desenvolvida pela UFG para contextualizar on-line e gratuitamente os dados de desmatamento e áreas susceptíveis ao desmatamento detectados pelos programas Prodes e Deter Cerrado, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), desde o ano 2000. Os 1.386 municípios brasileiros inseridos no bioma Cerrado podem ser avaliados. O objetivo da ferramenta é oferecer a gestores públicos nos níveis federal, estadual e municipal dados confiáveis para a gestão ambiental. 

O projeto é resultado do Programa de Investimento Florestal (FIP) implementado em 2016 no Brasil no âmbito do Plano de Investimento Brasileiro, gerido pelo Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird/Banco Mundial) e financiado pelo Fundo Estratégico do Clima. Gerenciado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e Comunicações (MCTI), o projeto FIP Cerrado tem como uma de suas frentes a produção de dados de desmatamento no Cerrado.

O evento de lançamento foi organizado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações (MCTI), com apoio do Programa de Investimento Florestal (FIP) Monitoramento Cerrado, Banco Mundial, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e realizado pelo portal Mundogeo.

Cerrado Dpat abertura

Lançamento do Cerrado Dpat (Imagem: captura de tela)

Abertura

A mesa de abertura do webinar foi composta pelo coordenador geral do FIP Monitoramento Cerrado, Jean Pierre Henry Balbaud Ometto, pela especialista ambiental do Banco Mundial, Bernadete Lange, o reitor da UFG e presidente da (Andifes), Edward Madureira Brasil, e o representante do MCTI, Luiz Henrique Mourão do Canto Pereira. A mediação do evento foi feita pelo diretor da Mundogeo, Emerson Zanon Granemann.  

O reitor da UFG, Edward Madureira Brasil, ficou entusiasmado com as potencialidades da plataforma. "Essa ferramenta é poderosíssima e vai ajudar a apontar caminhos no duplo dilema enfrentado pela nossa região: preservar as nascentes e a biodiversidade, evitando a devastação do Cerrado e, ao mesmo tempo, contribuir para a produção de alimentos, que também é muito marcante na nossa região".

Na condição de presidente da Andifes, Edward reforçou que não apenas a UFG, mas as 69 universidades federais e os 38 institutos federais estão aptos a estabelecer parcerias com o Inpe, MCTI, Banco Mundial e outras instituições "para poder servir melhor o estado, a sociedade e a humanidade".

O representante do MCTI, Luiz Henrique Mourão, destacou que um dos benefícios imediatos da plataforma Cerrado Dpat é "transformar a melhor ciência em um produto que pode ser usado pelos gestores". Mourão também chamou a atenção para a segunda parte do evento, programada para o período da tarde, que é a capacitação gratuita de gestores interessados em usar a ferramenta. 

Validação

O coordenador da plataforma Cerrado Dpat e pró-reitor de Pós-Graduação da UFG, Laerte Guimarães Ferreira Júnior, apresentou as funcionalidades da ferramenta Cerrado Dpat pelo domínio https://www.cerradodpat.org/#/ e as informações que podem ser obtidas. "Os últimos três anos foram de atividades de campo, com filmagens das áreas por drones, para validar os dados do Inpe, até 2020. Esperamos que o programa seja prorrogado para que sejam realizados novos trabalhos de campo". 

Na prática, a Cerrado Dpat realiza uma avaliação qualitativa dos dados Prodes (projeto do Inpe que realiza o monitoramento por satélites do desmatamento por corte raso na Amazônia Legal) e Deter (segundo o Inpe é um levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal), programas desenvolvidos no âmbito do Programa de Investimento Florestal Cerrado (FIP Cerrado), encabeçado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O professor Laerte explica que para cada polígono de desmatamento identificado, a equipe do Lapig realizou uma série de procedimentos, a partir de observações em campo e análises estatísticas, para determinar a qualidade do dado de desmatamento disponibilizado pela plataforma. “Assim, os usuários podem decidir visualizar ou recuperar todos os dados de desmatamento para um determinado município e para um determinado ano, ou acessar apenas os dados com um determinado nível de qualidade”, ressalta.

O coordenador de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Luis Eduardo Pinheiro Maurano, falou sobre o projeto Prodes Cerrado, que realiza anualmente o monitoramento por satélites do desmatamento por corte raso, e o Deter, que faz a detecção do desmatamento em tempo real, por meio de levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal.

Desmatamento

Coube ao pesquisador do Lapig, Leandro Leal Parente, apresentar alguns dados que podem ser obtidos por meio da Cerrado Dpat, a partir dos dados do Prodes e do Deter. Ao todo foram feitos quatro trabalhos de campo em 7.540 quilômetros percorridos pelos estados do Tocantins, Bahia, Maranhão e Piauí.

Validação Prodes Cerrado - pasto e agricultura

Leandro Parente apresenta dados obtidos com a Cerrado Dpat (Imagem: captura de tela)

Durante o trabalho de campo foram avaliados 340 polígonos Prodes. Desses, a maior quantidade de polígonos (152 unidades) foi desmatada para dar lugar a pastagens. Do ponto de vista de extensão territorial, a maior parte foi utilizada para agricultura (33,91%), enquanto que os pastos ficaram com 21% da área. "O que já era esperado. Existem trabalhos de como essa ocupação ocorre no cerrado. Apesar de a agricultura ter polígonos maiores e mais concentrados em regiões específicas, a quantidade de polígonos (65 unidades) ainda é menor do que aqueles que foram convertidos para pastagens".

Uma das coisas que chamou a atenção dos pesquisadores no campo foi a observação de muitas áreas chamadas de terra abandonada. "Basicamente são locais em que o desmatamento foi detectado pelo Prodes, mas ao chegarmos em campo não observamos nenhum tipo de uso. A terra estava simplesmente abandonada. Não houve pastagem ou agricultura. Simplesmente houve supressão vegetal e mais nada do ponto de vista produtivo”, afirma.

De acordo com os dados da Cerrado Dpat, o item terra abandonada ocupa o segundo lugar dos usos da terra desmatada. Tanto pela quantidade de polígonos (67) quanto pelo percentual de área (24,10%). "É o pior  dos tipos de desmatamento, pois acaba com a vegetação, prejudica todo a biodiversidade e do ponto de vista produtivo aquela área desmatada sequer está sendo utilizada", avalia Leandro.

Além da pesquisa em campo, a equipe da Cerrado Dpat conseguiu fazer algumas estimativas no cerrado, a partir de um processo estatístico de amostragem aleatória estratificada em cinco mil pontos. Esses pontos foram sorteados dentro dos polígonos (50%) detectados pelo Inpe e na área natural (50%) do cerrado. Foi feita uma inspeção por um período anterior ao que o Prodes estava monitorando, de 1985 a 2018.

Resultados

Os dois principais resultados obtidos foram uma curva de área desmatada, considerando o procedimento amostral, que ficou muito próxima do resultado do Prodes. "Isso é bom, pois com dois métodos completamente distintos estamos chegando a áreas de desmatamento aproximadas". O outro resultado que alcançamos foi a acurácia global que é entre 92% e 94%. 

Com esse procedimento de validação amostral foi inspecionada também a terra abandonada, que hoje está na faixa de 100 mil quilômetros quadrados. "Uma área gigantesca onde houve a supressão da biodiversidade e da vegetação e não teve um uso consolidado". A equipe também conseguiu estabelecer um ranking dos municípios com o maior desmatamento entre 2000 e 2018. Formosa do Rio Preto (BA), São Desidério (BA), Paranatinga (MT), Jaborandi (BA) e Correntina (BA) ocupam as primeiras cinco posições. 

Cerrado Dpat - Municípios 1

Cerrado Dpat - Municípios 2

Ranking de municípios (Imagem: Cerrado Dpat)

Leandro Parente afirma que houve ao longo dos anos um processo de migração do desmatamento da região do Mato Grosso, ao sul do bioma, mais para o norte, que é onde hoje se encontra a maior parte da vegetação natural concentrada, ainda remanescente. "Tem uma coisa que chama a atenção é que no Piauí houve elevadas taxas de desmatamento em todo o período. Apesar de ter esse movimento de expansão de desmatamento no sentido sul-norte. Não há uma tendência de desaceleração, há uma constância das taxas de desmatamento". 

Lapig UFG

Criado em 1994, o Lapig UFG se constitui como um laboratório que além de prestar enorme contribuição para as disciplinas e pesquisas realizadas na UFG na área de processamento de imagens e geoprocessamento, desenvolve inúmeras parcerias com centros de pesquisa brasileiros e internacionais para o monitoramento territorial e ambiental com excelência. O foco especial para o bioma Cerrado se acentuou no ano de 2005 a partir do desenvolvimento do Sistema Integrado de Alertas de Desmatamentos (Siad Cerrado). 

Já entre 2015 e 2016 o Lapig participou ativamente, ao lado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), para a elaboração do mapa oficial da cobertura e uso da terra no bioma Cerrado (projeto conhecido como TerraClass Cerrado), desenvolvido sob a coordenação geral do Ministério do Meio Ambiente, com recursos do Banco Mundial no âmbito da iniciativa GEF Cerrado. E a partir de 2017, com o início do projeto FIP Cerrado, sob a coordenação geral do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Lapig passou a ser responsável pela validação dos dados de desmatamentos identificados no bioma.

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Fonte: Secom/UFG

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