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Goiânia tem uma “nova periferia”, diz pesquisa da UFG

Em 18/01/18 11:19.

Impulsionado por políticas públicas habitacionais da última década, setor imobiliário faz metrópole se expandir pelas bordas e não resolve déficits de moradia

Texto: Patrícia da Veiga

Fotos: Carlos Siqueira

 

Um estudo desenvolvido no Instituto de Estudos Socioambientais da Universidade Federal de Goiás (IESA/UFG) investigou o crescimento da Grande Goiânia entre 2005 e 2016, constatando uma expansão vertiginosa “pelas franjas” da metrópole. Segundo a pesquisa, o que impulsionou essa realidade foi a implantação de políticas públicas federais e estaduais como Crédito Solidário, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Minha Casa Minha Vida (MCMV) e Cheque Moradia. Apesar disso, o problema da moradia não foi sanado e as ocupações espontâneas seguem surgindo em bairros da Região Metropolitana de Goiânia (RMG).

 

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“Estes programas construíram 101 mil unidades habitacionais entre os 20 municípios da RMG, significando um volume de recursos de R$ 7,4 bilhões em investimentos. Conforme dados da Prefeitura de Goiânia, somente na década de 2000 foram construídos 205 novos bairros na capital e no entorno. Esse foi o maior registro da história”, afirma Elcileni de Melo Borges, gestora governamental e autora do trabalho. Sua investigação é resultado do doutorado que cursou no Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGeo), sob orientação da professora Celene Barreira, diretora do IESA, e co-orientação do professor Aristides Moysés, da Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO).

De acordo com Elcileni Borges, por meio de um pesado aporte de recursos de fundos estatais (como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS), especialmente a partir do lançamento do MCMV, o segmento econômico de imóveis se voltou para a construção massiva de residências destinadas a consumidores com renda de até seis salários mínimos. Essa realidade fez a metrópole se espraiar, intensificou a conurbação entre municípios vizinhos à capital – como Aparecida de Goiânia, Senador Canedo e Trindade – e produziu o fenômeno da “periferização da verticalização”.

Desse modo, o que se viu em setores como Oeste e Bueno nos anos 1980 e 1990, com a explosão de edifícios planejados para as classes média e alta, e o que ainda se nota ao redor de parques urbanos, com a “verticalização de alto padrão”, foi perceptível também nos bairros populares, nas zonas limítrofes e até mesmo em áreas rurais da metrópole. “Se viu aflorar uma nova periferia e novos padrões de segregação residencial e socioespacial na Grande Goiânia”, constata a pesquisadora.

 

Consequências

O trabalho de campo realizado por Elcileni Borges consistiu em percorrer 20 empreendimentos situados em sete municípios da RMG (Goiânia, Aparecida de Goiânia, Trindade, Senador Canedo, Goianira, Guapó e Nerópolis). Ao realizar visitas técnicas a moradias, a pesquisadora buscou captar, entre outros fatores, o grau de satisfação dos habitantes dos novos bairros. “Muita gente reclamou de se sentir isolada e não ter serviços por perto: escola, supermercado, postos de saúde, pontos de ônibus etc.”, pontua.

Na tese Habitação e Metrópole: transformações recentes na dinâmica urbana de Goiânia, Elcileni Borges revela consequências como a fragmentação do território e o surgimento de novas “manchas urbanas” (espaços vazios em meio a áreas recém-ocupadas). A predominância da construção de moradias populares em áreas isoladas e segregadas, a carência de equipamentos urbanos nos novos bairros e o difícil acesso aos centros econômico e cívico também são apontados como resultados para o fenômeno da “verticalização” das periferias.

 

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