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UFGInclui é avaliado por gestores e acadêmicos

Em 18/12/17 12:52.

Seminário de avaliação do UFGInclui resgata ações dos 10 anos do programa e traça novos caminhos

Texto: Carolina Melo

Fotos: Ana Fortunato

Prestes a completar 10 anos, o programa UFGInclui soma conquistas e novos desafios. Para planejar o futuro e as novas demandas de uma universidade mais inclusiva, gestores, pesquisadores e, principalmente, estudantes indígenas, quilombolas e surdos se reuniram sexta-feira (15/12) durante a abertura do Seminário de Avaliação do UFGInclui. A dificuldade de acesso aos cursos de pós-graduação, a desigualdade no acesso ao estudo das línguas estrangeiras e a exigência desse conhecimento em processos de seleção, assim como as bolsas de estudos e de permanência, fraudes no sistema de cotas e o assédio moral foram alguns dos temas que pautaram o encontro.

De acordo com Suzane de Alencar Vieira, da Coordenação de Inclusão e Permanência, o encontro foi uma oportunidade para a avaliação valorativa e não técnica do programa. Neste sentido, os acadêmicos do UFGInclui tiveram o espaço de fala para avaliar o programa, apresentar reivindicações e sugestões. Ao final do encontro, foi elaborado um documento que será entregue a nova gestão da UFG.

Seminário UFGInclui

Gestores, pesquisadores, estudantes indígenas, quilombolas e surdos debatem futuro do programa

Demanda atual, as formas de seleção e acesso à pós-graduação foi uma temática que norteou a fala dos acadêmicos. Estudante do curso de Letras/Libras e do doutorado em Geografia, Elizeth da Costa Alves, do quilombo Kalunga do Mimoso, em Arraias (TO), acredita que Resolução Consuni nº 29/2008, que constituiu o programa, precisa repensar a política direcionada à pós-graduação. Entre as reivindicações, sugeriu cotas específicas para negros quilombolas "que estão em vulnerabilidade dentro da sociedade", e a possibilidade de o Português ser a segunda língua para estudantes surdos, que têm como primeira língua a Libras.

Também houve o questionamento sobre a seleção por mérito, que não atende aos objetivos de inclusão. "Querendo ou não, temos que concorrer em pé de igualdade. Se não atingirmos o mínimo de sete pontos na prova de línguas eu já sou desclassificada. Então para que serve as cotas? Assim elas não se efetivam", afirmou Elizeth.

Línguas e bolsas
Em diálogo, o acadêmico surdo Leonardo Ferreira, do curso Letras/Libras, destacou a importância de uma discussão política que reafirme o direito linguístico das pessoas surdas. "Já somos sujeitos bilíngues e os processos de seleção nos exigem uma terceira língua. Como, assim, o surdo terá direito à pós-graduação?", questionou. Segundo Leonardo, a universidade ainda apresenta muitos problemas em relação à comunicação com os estudantes surdos.

"É urgente promover uma inclusão comunicativa. Muitos eventos acadêmicos não se preocupam em passar a informação adequada a esse estudante e essas informações são muito importantes", afirmou e relembrou que, devido a uma barreira linguística, não conseguiu fazer o curso de Psicologia. "Resolvi fazer Letras Libras. Mas o estudante surdo deve ter o direito de escolher o curso que ele quer fazer e não somente Letras Libras".

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Leonardo Ferreira, de jaqueta vermelha: é necessário pensar o direito linguístico das pessoas surdas

Pensando na democratização do acesso às línguas, a mestranda de Antropologia, Yordana Lara, propôs um programa especifico e direcionado de cursos de Libras, Inglês e Espanhol no Centro de Línguas, ofertados por professores oriundos das cotas. Também destacou a importância dos projetos de extensão ligados às Ações Afirmativas, capazes de garantir um retorno da Universidade e dos universitários às comunidades de origem.

Vinculadas a essa discussão estão as políticas de auxílio e permanência dos universitários no espaço acadêmico. Além do atraso das bolsas pontuado pela quilombola Marta Quintiliano, discente do mestrado de Antropologia, foram questionados os critérios de distribuição das bolsas da graduação e pós-graduação. "Como o estudante quilombola e indígena vai permanecer na graduação e pós sem bolsa? As bolsas, em sua maioria, são distribuídas por meritocracia. São sempre os privilegiados que conseguem bolsas", destacou a quilombola Elizeth da Costa.

Fraudes e assédio moral
Ao longo do encontro, também foram debatidas as fraudes no sistema de cotas e o assédio moral. Dois cenários que prejudicam a entrada e permanência dos estudantes quilombolas, indígenas e surdos na universidade. O primeiro se amplifica quando as unidades acadêmicas não se preocupam em recorrer à Comissão de Verificação de Autodeclaração para averiguar a veracidade das declarações e o segundo se manifesta, inclusive, dentro da sala de aula.

"Temos onze anos de ações afirmativas e ainda temos docentes que não conseguem lidar com a diferença", afirmou Marta Quintiliano. "As minhas dificuldades não são culpas minhas. O trauma de um assédio moral a gente carrega, mesmo quando não queremos", afirmou Márcia Sacramento Rocha, da comunidade quilombola Extrema, em Iaciara (GO).

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Membro da Comissão de Verificação de Autodeclaração, Pedro Cruz falou sobre autenticidade das declarações

A coordenadora da Coordenação de Ações Afirmativas (CAAF) da UFG, Marline Dorneles de Lima, ressaltou a linha da escuta, como um caminho privilegiado pela coordenação, para encontrar respostas e resoluções. "Novas questões estão surgindo no atual cenário do UFGInclui. Respeitamos muito essa linha da escuta na perspectiva de uma comunidade que vai se fortalecendo para, assim, encontrarmos as respostas adequadas às novas demandas. Vamos caminhar para a construção de frentes de trabalho, para a construção de novas ações, mas também para a avaliar e acompanhar as conquistas e o que já vem sendo realizado", afirmou.

Também estiveram presentes na abertura do evento o reitor e a vice-reitora eleitos para a próxima gestão da UFG, Edward Madureira e Sandramara Matias Chaves.

Fonte: Ascom/UFG

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