Discurso Edward Madureira

Discurso do Professor Edward Madureira na Inauguração do Hospital das Clínicas UFG 14/12/2020

 

“Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade.”

Nesses versos imortalizados na canção de nosso grande compositor Raul Seixas busco inspiração para iniciar este pronunciamento nesta manhã especial de 14 de dezembro de 2020, quando nossa querida UFG, essa bela senhora que hoje completa 60 anos,ao invés de ser presenteada nos presenteia com a maior, mais bela e mais significativa obra de sua ainda breve existência, o novo hospital das clínicas. são mais de 46 mil metros quadrados de área construída com 600 leitos sus, dos quais 78 leitos de uti, sendo 42 para adultos, 18 pediátricos e 18 neonatais. esse equipamento público ampliará em quantidade e com mais qualidade ainda o atendimento ao povo de nosso estado, e porque não dizer de nosso país, especialmente àqueles menos aquinhoados do ponto de vista material.

O sonho, a utopia, a busca incessante pelo ideal, fazem parte da essência, dessa, que sem nenhum risco de estar equivocado, afirmo com tranquilidade e convicção, é a maior de todas as criações da humanidade, a universidade.  

Sonhada nos anos de 1950 por nossos precursores, dentre eles Colemar Natal e Silva, primeiro reitor dessa Hospital das Clínicas, essa jovem universidade tem uma trajetória extraordinária, e mesmo diante do descaso histórico com o qual sempre foi tratada a educação, a ciência, a tecnologia e a inovação em nossa promissora nação, ela se destaca entre as melhores universidades do país e se projeta de forma exemplar entre as grandes instituições de todo o planeta, contribuindo para o maior e melhor sistema público de universidades do mundo.

De sonhos sim é feita a universidade, mas também de garra, ousadia, competência, excelência, isenção, respeito a pluralidade de ideias, respeito a diversidade, democracia, compromisso com a ciência, com a laicidade, com a correção de assimetrias de toda ordem, além disso  solidariedade, generosidade, isonomia no tratamento do ser humano,  e sobretudo relevância e compromisso social.

Terei como guia nesse dia de hoje alguns desses valores. não abordarei todos, pois seria impossível fazê-lo sem levar algumas horas, mas não posso deixar de destacar alguns, que em minha percepção, foram fundamentais para que esse sonho, materializado hoje, se tornasse realidade, e que entendo serem essenciais para atravessarmos com menos dor esse momento tão difícil, em tantos aspectos, pelos quais estamos passando.

É inegável o papel de destaque que três elementos de nossa sociedade desempenharam nesses exatos nove meses de pandemia, bem como é inquestionável a essencialidade desses três elementos para o enfrentamento desse mal gigantesco que se abateu sobre nossas existências. me refiro a universidade, ao sistema único de saúde e à ciência. 

Se por um lado as universidades federais se constituem, elas próprias, um desses pilares,  por outro lado elas são parte inseparável dos outros dois pilares, pois em seu conjunto ao lado da Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hhospitalares) oferecem serviços de saúde de excelência em quase 50 hospitais universitários em todo o território nacional, e na ciência produzem junto com outras instituições públicas cerca de 95% da ciência brasileira, que é a décima terceira em produção de artigos científicos do mundo.

Em nome da vice-reitora, minha companheira de luta diária na construção dessa universidade nesses três anos dessa gestão, professora sandramara matias chaves, quero agradecer a toda a equipe de gestores, professores, técnico administrativos, e trabalhadores terceirizados. você sandramara representa com dignidade, competência, zelo, e dedicação essa nossa missão que escolhemos quando nos tornamos servidores públicos. 

Somos servidores públicos com muito orgulho, e não tenho dúvida de que, o que hoje entregamos ao Brasil, é fruto dessa obstinação de servir com amor, dedicação, impessoalidade, correção e responsabilidade à nossa nação.

Quero iniciar falando de respeito. esse valor básico e fundante para nossa convivência harmoniosa e que por muitas vezes tem se tornado escasso nos últimos tempos, foi pilar fundamental dessa obra. 

Me refiro ao respeito institucional demonstrado à UFG pelas gerações de parlamentares aqui representadas que abraçaram desde 2002 essa empreitada, ainda no mandato da reitora Milca Severino, e destinaram emendas ao orçamento federal para a execução do novo HC. 

Respeito da UFG com os parlamentares reconhecendo o trabalho destes em várias oportunidades e prestando contas de cada centavo investido aqui. 

Respeito à nossa população ao conceber obra tão arrojada e visionária para atendê-la com dignidade em um espaço dotado de conforto para o paciente e acompanhante em enfermarias com no máximo dois leitos, central de material e esterilização ampla e equipada com o que há de mais moderno para prevenir infecção hospitalar, 35 salas de cirurgia amplas e demais itens de infraestrutura hospitalar comparável aos melhores hospitais do mundo. 

Respeito a essa mesma população quando, em plena pandemia e com o hospital pronto, aguardando a inauguração, decidimos, com o aval do conselho universitário, desenvolver uma parceria com a prefeitura por intermédio da Secretaria Municipal de Saúde e, com o apoio da Fundahc, criamos um hospital temporário para atendimento de pacientes com covid-19, contribuindo para que não tivéssemos um estrangulamento na oferta de leitos para o tratamento de pacientes com essa enfermidade. agradeço ao prefeito iris rezende e a secretária Fátima Mrué, bem como aos dirigentes da Fundahc, José Antônio e Enilza de Paiva por possibilitar essa alternativa que se mostrou importante para a população.

Respeito aos profissionais de saúde de todas as formações e especialidades que terão à sua disposição instalações seguras e condições adequadas de trabalho, além de aposentos confortáveis para o salutar e necessário repouso. 

Respeito aos professores e estudantes de todos os níveis que contarão a partir de agora com salas de aula, salas de professores, redes de compartilhamento de dados e conteúdos, telemedicina e tudo que se faz necessário para o ensino de qualidade. 

Respeito à ciência, pois aqui teremos as condições para os estudos básicos com a participação de pesquisadores de toda a UFG e de nossas instituições  irmãs de ensino e pesquisa tanto do setor público como do setor privado, de investigar e  de desenvolver soluções para os problemas mais complexos de saúde da humanidade, dentre eles a própria covid-19. 

Esperamos continuar sendo merecedores do respeito e da confiança de todos, poderes executivo, legislativo, judiciário, ministério público, sociedade civil e demais atores da sociedade. esse respeito deve ser materializado em um financiamento justo para a educação em todos os níveis, para a ciência, tecnologia e inovação,  no estabelecimento de parcerias para a concepção e implementação de políticas públicas e projetos de desenvolvimento e na garantia da autonomia universitária, princípio básico para cumprimento de nossas funções de organismo de estado e agentes de desenvolvimento.

Voltando para o motivo principal de estarmos aqui hoje, cumpre-me ressaltar o lapso de tempo demandado desde a ideia original dessa obra e sua conclusão. Tudo começa com uma crise no início dos anos de 1990 ainda no reitorado do nosso saudoso professor Ricardo Freua Bufáiçal, quando uma ameaça de fechamento do hospital levou à criação de uma comissão para salvar o HC que desencadeou a ideia de um novo hospital. na sequência, no reitorado do professor Ary Monteiro do Espírito Santo, o projeto começa a se materializar, até que no reitorado da professora Milca Severino Pereira o projeto fica pronto e os primeiros recursos são destinados pela bancada por meio de uma emenda ao orçamento da união e a obra tem seu início em fevereiro de 2002. ao assumir a reitoria pela primeira vez em 2006, me comprometi com a equipe que me acompanhava a retomar a obra e envidar esforços para concluí-la. Por vários anos conseguimos sensibilizar nossos parlamentares que não se furtaram a destinar recursos para dar continuidade à obra, recursos esses que nem sempre eram liberados, fato que levou a novas interrupções, novas licitações e retomadas. No mandato do reitor Orlando Afonso Valle do Amaral aconteceu a mais substancial destinação de recursos, da ordem de R$ 100 milhões de reais, que permitiram realizar a licitação final para o término da obra. A mim coube novamente a continuidade, o término da obra e a luta pelos recursos para complementar os equipamentos para colocar esse gigante em funcionamento. Novamente a bancada de deputados e senadores da legislatura anterior e da atual foram decisivos para estarmos aqui hoje. Novas ações e parceiros se apresentaram nesta fase final da obra e aquisição de equipamentos, dentre eles destaco a ação do Ministério Público do Trabalho, do Tribunal Regional do Trabalho, do Ministério Público Federal, da Justiça Federal, do Ministério Público Estadual e Tribunal de Justiça do Estado, do Centro Acadêmico XXI de abril da Faculdade de Medicina da UFG, da Sicoob, do Instituto flamboyant e de outros que se empenharam nessa etapa. 

Como podemos perceber, senhoras e senhores, essa obra atravessou várias gestões do hospital das clínicas, 8 reitorados desde a sua ideia original, cinco presidentes da república, mais de uma dúzia de ministros da educação, seis legislaturas e inúmeros desafios nesses 18 anos de obra. dessa forma quero expressar toda a nossa gratidão a esse enorme conjunto de atores sem os quais nada disso teria acontecido. Estamos verdadeiramente diante de uma obra de estado e muito me orgulha ter dado sequência a um sonho e dado minha pequena parcela de contribuição para torná-lo realidade.

Quero fazer mais uma vez um destaque especial a bancada de deputados federais e senadores nessas seis legislaturas que se fazem presentes de forma muito significativa aqui, faço isso em nome do ex-deputado federal Jovair Arantes que coordenou a bancada por vários anos consecutivos e à atual coordenadora da bancada, deputada Flávia Morais de quem tenho merecido uma atenção especial no estabelecimento do diálogo permanente com os parlamentares. Estejam certos de que o trabalho de vocês não será jamais esquecido por essa universidade e pelo povo goiano. Saudando-os, saúdo a todos os deputados e senadores com os quais tive a satisfação de conversar nos últimos dias, e também faço o reconhecimento àqueles que nos deixaram. estou convicto de que temos a bancada mais parceira do país, pois desenvolvemos, além desse, inúmeros outros projetos que beneficiam a sociedade.

Não posso deixar de prestar minha homengaem às empresas que participaram dessa obra (Fuad Rassi, Engefort, EHS e Engemil) bem como aos seus trabalhadores que estiveram aqui conosco derramando o seu suor e cuidando de cada detalhe dessa obra incrível, a eles o nosso respeito e gratidão. 

Com muita alegria registro o trabalho da equipe de engenheiros, arquitetos, fiscais, pregoeiros do nosso antigo Centro de Gestão do Espaço Físico - Cegef, hoje Seinfra, que cuidou de tudo com carinho, dedicação, responsabilidade e competência desde os primeiros passos e continua cuidando até a entrega definitiva da obra. Faço isso nas pessoas do arquiteto Marco Antônio de Oliveira e do professor Frederico Martins Alves da Silva, do engenheiro mecânico Glauber Pereira Pinto, do engenheiro civil Paulo Sérgio Nunes  e do mestre de obras José Francisco Benedito da Costa, nosso querido Zelão.

Não poderia me esquecer das nossas artistas plásticas Eliane Chaud e Selma Parreira que com o auxílio do professor Bráulio, diretor da nossa Faculdade de Artes Visuais, aceitaram o desafio de propor e implementar uma obra de arte no saguão de entrada no novo HC. A representação do sertão em azulejos que utiliza plantas medicinais do Cerrado como a arnica e a canela de ema traz para os que por ali passam a beleza da nossa arte, cultura e sentimentos, mostrando que em nossas terras brota saúde, beleza e poesia. Sertão forte, Sertão sábio, Sertão são.

Quero encerrar este pronunciamento me socorrendo mais uma vez no cancioneiro popular. Vou até ao clube da esquina e peço emprestado ao grande Milton Nascimento a letra de credo que diz assim:

‘Caminhando pela noite de nossa cidade
acendendo a esperança e apagando a escuridão
vamos, caminhando pelas ruas de nossa cidade
viver derramando a juventude pelos corações
tenha fé no nosso povo que ele resiste
tenha fé no nosso povo que ele insiste
e acordar novo, forte, alegre, cheio de paixão
vamos, caminhando de mãos dadas com a alma nova
viver semeando a liberdade em cada coração
tenha fé no nosso povo que ele acorda
tenha fé no nosso povo que ele assusta.’

 

Muito obrigado.

Edward Madureira, 14/12/2020