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Diversidade é essencial para o espaço urbano, diz Haddad

Em 19/07/17 09:48.

Ex-prefeito de São Paulo esteve na UFG durante Encontro Nacional de Estudantes de Economia

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Texto: Angélica Queiroz e Luiz Felipe Fernandes

Fotos: Carlos Siqueira

"Como organizar a vida de milhares de pessoas vivendo no mesmo espaço?" A resposta pode estar na "economia das cidades".  A área do conhecimento tem ganhado cada vez mais destaque na agenda nacional e internacional nos últimos anos porque pela primeira vez na história temos mais pessoas vivendo nas cidades do que no campo e, especialmente, por conta do nascimento das grandes manchas urbanas: as metrópoles. Esse foi o tema da palestra magna ministrada pelo ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, durante o 43º Encontro Nacional de Estudantes de Economia (Eneco) na noite desta terça-feira (18/7), no Câmpus Samambaia da UFG. O evento vai até o próximo sábado (22/7).

Haddad, que tem mestrado em Economia, usou sua experiência à frente da maior cidade do Brasil para falar sobre como racionalizar a ocupação do espaço urbano para que as coisas funcionem. "Não é possível pensar a cidade sem pensar em acesso a terra", pontuou o ex-ministro, explicando que é preciso evitar a chamada gentrificação das cidades, porque a diversidade, inclusive de renda, é essencial para que os espaços sejam mais funcionais e eficientes, inclusive do ponto de vista econômico. "É preciso modular a ocupação do solo e, para isso, precisamos reservar terra para tornar os bairros mistos", opinou.

Para Haddad, as prefeituras deveriam reservar áreas em todos os bairros para a promoção da moradia social para garantir que as pessoas de baixa renda tenham espaço na cidade porque quanto mais misto for um bairro, menos despesa com infraestrutura de mobilidade a cidade terá. "Um prédio, por mais chique que seja, vai precisar de serviços de limpeza, segurança, tudo. A cidade não funciona sem diversidade, sem o trabalhador qualificado e o trabalhador simples", exemplificou.

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Haddad defendeu investimentos em transporte público e ocupação racional do espaço urbano

"Cidade é lugar de encontro"
Outro aspecto destacado por Haddad diz respeito ao sistema viário das cidades. Segundo ele, a moderna economia vê o espaço público como passível de organização e é preciso inverter a lógica das cidades e inibir o uso de automóveis. "O ônibus é o antídoto ao congestionamento de carros. Por isso não pode disputar espaço com eles", afirmou, dando o exemplo de São Paulo, que implantou corredores exclusivos para ônibus na maior parte das avenidas da cidade. "O maior bem que o carro fez para a humanidade foi exigir um espaço que ele não precisa mais, porque ele é dispensável. Podemos usar esse espaço para as pessoas", provocou, dando o exemplo da Avenida Paulista, principal avenida da cidade de São Paulo, que hoje é fechada para carros aos domingos e se transforma em um grande parque.

Haddad acredita que o acesso à terra tem que ser pensado a partir da função social da malha viária. Para ele, os equipamentos públicos precisam estar onde as pessoas estão para não sobrecarregar a infraestrutura de mobilidade. "Se a cidade é lugar de encontro, esse encontro tem que ter baixo custo", afirmou, destacando que a cidade é lugar de convívio e que, se isso não acontece, ela não cumpre seu papel. "A arte de gerir uma cidade hoje é a arte de quebrar determinados paradigmas que estão arraigados na sociedade de forma a tornar a vida urbana mais prazerosa".

Para o ex-prefeito de São Paulo, as cidades devem investir em iluminação pública, calçadas, ciclovias, faixas de ônibus, além de regulamentar aplicativos que oferecem viagens compartilhadas. Haddad lembrou ainda que essa forma de ocupação das cidades defendida por ele não é ideológica e não está relacionada à sua posição política. "Ocupar racionalmente o espaço urbano não é coisa de direita ou de esquerda. Prefeitos inteligentes de direita fizeram a mesma coisa que eu fiz em São Paulo", afirmou, dando o exemplo de várias cidades do mundo que apostaram em soluções de mobilidade, como Buenos Aires e Bogotá.

Visita ao reitor
Antes da palestra, Fernando Haddad esteve no gabinete do reitor da UFG, Orlando Amaral, que apresentou a evolução da Universidade desde a implantação do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni). No encontro também estavam integrantes da equipe gestora, servidores e estudantes.

O Reuni foi instituído em 2007, época em que Haddad ocupava o Ministério da Educação (MEC). Os números apresentados mostram que a UFG cresceu exponencialmente em todos os aspectos: estrutura física, cursos e vagas de graduação e de pós-graduação, projetos de pesquisa e de extensão, corpo docente e discente, assistência estudantil, entre outros. "Foi um programa ousado sem precedentes na história", avaliou o reitor Orlando Amaral, que destacou que esse crescimento da UFG se deu tanto na capital quanto no interior.

O ex-ministro lembrou que a proposta apresentada à época ao então presidente Lula era aliar o combate à fome – prioridade da gestão – ao combate ao déficit de educação formal. Só em relação ao ensino superior, segundo Haddad, foram entregues 214 escolas técnicas e 126 câmpus universitários. Outras importantes iniciativas para o ensino superior brasileiro levantadas durante a reunião foram o Sistema de Seleção Unificada (SiSU), o novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes).

Fernando Haddad Reitoria

Integrantes da equipe gestora, servidores e estudantes receberam o ex-ministro na Reitoria antes do evento

O estudante de Economia da UFG, Marcos Antônio, citou seu próprio exemplo como beneficiário dos programas sociais e de assistência estudantil para falar da importância de políticas públicas que garantam tanto o acesso quanto a permanência no ensino superior. A servidora da UFG e também estudante de Economia, Michele Coutinho, relatou como a Universidade é mais diversa em todos os aspectos. Haddad afirmou enxergar nesta juventude a perspectiva de mudança. "A confiança que eu tenho é nessa juventude que tem uma nova relação o espaço público e com a sociabilidade. É onde eu vejo um sopro de esperança de mudança social para o país'.

Fonte: Ascom UFG

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