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Os desafios da interdisciplinaridade

Em 11/07/17 15:28.

Pesquisadora da UFG discute diálogo entre disciplinas, abordagens e saberes

Texto: Patrícia da Veiga

Fotos: Carlos Siqueira

O Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos (PPGIDH) da Universidade Federal de Goiás (UFG) realiza há cinco anos um encontro para discutir temas pertinentes aos estudos desenvolvidos por seu corpo docente e discente. Em 2017, uma das reflexões propostas pelo V Seminário Integrador Internacional, realizado nos dias 3 e 4 de julho, na Faculdade de Educação (FE), foi sobre a interdisciplinaridade. Do que se trata? O que promove? Como fazer? Quais os desafios? A professora Luciana Dias, da Faculdade de Ciências Sociais (FCS), respondeu a essas perguntas e lançou outras tantas, buscando esmiuçar (e desmistificar) o termo.

Luciana citou a pesquisadora portuguesa Olga Pombo como referência no tema, para quem a interdisciplinaridade é uma proposta de transformação no modo de fazer ciência que está em curso e que ainda é pouco compreendida. “De fato”, concordou, “somos chamados a agir interdisciplinarmente, mas muitas vezes sequer entendemos as disciplinas”, complementou. Foi a partir da década de 1970 que pesquisadores de diversas áreas começaram a pensar em zonas de conhecimento fronteiriças. “Uma disciplina só não dá conta de temas mais complexos”, declarou a pesquisadora.

Um desses “temas complexos” seria, justamente, o que permeia todas as abordagens do PPGIDH. “Quem trabalha com direitos humanos é desafiado a lidar com experiências multi, inter e transdisciplinares. Caso contrário, a atuação ficará comprometida com o discurso de que esses direitos nasceram somente em 1948 [com a publicação da Declaração Universal dos Direitos do Homem] e que antes disso não havia luta por dignidade e por respeito”, disparou Luciana, diante de uma plateia formada por profissionais de diversas áreas.

Uma possível compreensão da interdisciplinaridade, segundo Luciana, dependeria menos de um domínio especializado e mais de uma abertura para o diálogo. “Começamos por lidar com possibilidades ao invés de resultados e com uma audiência horizontalizada para a diferença ao invés de um conhecimento hierarquizado”, afirmou. Não há receita certa para praticar a interdisciplinaridade, mas Luciana sugeriu que, em primeiro lugar, as pessoas interessadas partam de seu próprio lugar de fala – o lugar do aprendiz e/ou do profissional, o lugar da formação básica e/ou da especialização – e, em seguida, busquem um referencial teórico que apresente a abertura para trabalhar situações “novas” nas ciências.

Multi, inter e transdisciplinaridade

A multidisciplinaridade é um momento de pesquisa que antecede a interdisciplinaridade. Pode ser o início de um caminho a ser percorrido, quando um estudo estabelece paralelos, reconhece a multiplicidade das correntes disciplinares, mas ainda não consegue estabelecer um diálogo entre elas. A interdisciplinaridade avança nesse sentido e desenvolve um conhecimento “centrípeto”, tendendo a produzir um novo modelo de análise para os temas investigados. Já a transdisciplinaridade faz um exercício “centrífugo”, de dentro para fora, apresentando respostas holísticas para os problemas. “Aqui na UFG fazemos inter e transdisciplinaridade”, indicou a professora Luciana Dias, se referindo ao PPGIDH e à Licenciatura Intercultural Indígena, respectivamente.

Uma das condições para trabalhar em busca de novos paradigmas e, assim, estabelecer diálogos entre disciplinas e saberes é estar disposto a perder certezas. Para tanto, Luciana recomenda buscar a construção coletiva da pesquisa, trabalhando “temas contextuais” juntamente com os sujeitos de investigação. “Para isso, o interessante é levantar perguntas simples e deixar que o outro responda: O que é isso? O que é justiça? O que é tempo? O que é espaço? O que é lógica? O que é justiça? O que é belo? O que é força? O que é saúde? O que é som? As respostas podem ser desestabilizantes para a ciência”, concluiu.

 

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Debate sobre interdisciplinaridade foi realizado no V Seminário Integrador Internacional do PPGIDH

Fonte: Ascom/UFG

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