Formada a primeira doutora surda da UFG
Elcileni de Melo Borges defendeu sua tese no Iesa discutindo as transformações na dinâmica urbana de Goiânia
Texto: Patrícia da Veiga
Fotos: Adriana Silva
A Universidade Federal de Goiás (UFG) formou a primeira doutora deficiente auditiva da história da instituição. Elcileni de Melo Borges, 45 anos, passou pelo ritual de defesa pública de sua tese nesta segunda-feira (26/06), no Programa de Pós-Graduação em Geografia do Instituto de Estudos Socioambientais (PPGeo/Iesa). Na ocasião, a pesquisadora fez uma carinhosa fala de agradecimento a cada um dos colegas, profissionais e professores que contribuíram com o desenvolvimento de seu trabalho. "Uma pesquisa desse porte não é feita por uma pessoa só, ainda que o processo de escrita seja solitário", afirmou Elcileni.
Antes de iniciar a apresentação, a professora Celene Cunha, diretora do Iesa e orientadora do trabalho, propôs aos presentes que fizessem um minuto de silêncio em respeito a Lucas Silva Mariano, estudante da Escola de Veterinária e Zootecnia (EVZ) vítima de um acidente fatal no último sábado. Em seguida, Elcileni expôs os resultados de sua investigação e foi avaliada pelos professores Tadeu Arrais e Manuel Ferreira, do Iesa, Aristides Moysés, da PUC-GO – que também atuou como co-orientador –, Lucía Zanin, da USP, e Eduarda Pires, da Universidade de Lisboa.
A pesquisadora e sua banca examinadora se comunicaram por meio de plataformas multimídia. Tais ferramentas possibilitaram tanto a participação das professoras Lucía, em São Paulo, e Eduarda, em Portugal, como a compreensão de Elcileni. O que era pronunciado, presencialmente ou a distância, uma colaboradora transcrevia simultaneamente e ela podia ler e responder de imediato. Essa alternativa foi usada durante os quatro anos em que a pesquisadora frequentou as atividades do PPGeo. "Uma aluna ouvinte legendava as aulas pela plataforma Google Docs e eu conseguia ler de forma instantânea. Era como se fosse um 'closed caption'. Com isso, obtive aproveitamento suficiente em todas as disciplinas", explicou.
Defesa de doutorado de Elcileni Borges foi auxiliada por ferramentas multimídia de transcrição simultânea
Goiânia
A apresentação de Elcileni Borges contemplou os resultados de uma vasta investigação feita em sete municípios da Região Metropolitana de Goiânia (RMG) a respeito da expansão do mercado imobiliário encadeada pela implantação de políticas públicas como o Crédito Solidário, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Minha Casa Minha Vida e Cheque Moradia (este último, estadual). Intitulada "Habitação e Metrópole: transformações recentes na dinâmica urbana de Goiânia", a tese teve como objetivos mapear a produção habitacional da RMG e identificar os impactos na reconfiguração urbana da metrópole goianiense entre 2005 e 2016. "Foi quando se viu aflorar uma nova periferia e novos padrões de segregação residencial e socioespacial", comentou.
Professores assistiram e aprovaram o trabalho de Elcileni, a primeira deficiente auditiva a se tornar doutora pela UFG
Perfil
Elcileni é economista e gestora governamental do Estado de Goiás. Possui uma vasta experiência em estudos urbanos e habitacionais, sendo integrante da equipe goiana do Observatório das Metrópoles. Aos 27 anos descobriu um tumor no nervo auditivo e foi submetida à cirurgia, o que a deixou com deficiência auditiva bilateral. Ela é a segunda pessoa surda a se formar na pós-graduação da UFG. A primeira foi Renata Garcia, que concluiu Mestrado em Ciências da Saúde em 2016.
Fonte: Ascom/UFG
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