Capa_movimento estudantil

Encontro reconhece importância das ocupações

Em 01/04/17 20:55.

Ações recentes do movimento estudantil revelam capacidade da juventude de transformar a política e a educação, diz palestrante das Ciências Sociais

Texto: Patrícia da Veiga

Fotos: Ana Fortunato e Coletivo Desneuralizador (capa)

As ocupações promovidas por secundaristas e universitários a seus respectivos ambientes escolares têm revelado à sociedade brasileira a capacidade da juventude de se organizar, participar da vida pública e transformar o cotidiano. Essa é a defesa de Luis Antônio Groppo, professor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e pesquisador da Sociologia da Educação, que na última sexta-feira (31/3) proferiu palestra na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (FCS/UFG).

Groppo apresentou sua leitura sobre as ações realizadas pelos estudantes em 2015 e 2016, que começaram com protestos nas ruas e culminaram na ocupação de mais de mil unidades de ensino em todas as regiões do país. Para organizar sua análise, o professor dividiu a atuação estudantil em duas fases – ou o que chamou de “ondas”. Na primeira delas, que foi de novembro de 2015 a janeiro de 2016, estudantes do Ensino Médio de cinco estados (SP, GO, RJ, CE, RS) se organizaram, retomaram o termo “secundarista”  usado nas década de 1960 e 1970  e atuaram localmente contra o fechamento de escolas, a precarização das condições de ensino, a implantação de organizações sociais na gestão escolar, entre outros fatores.

Já na segunda fase, que se deu entre setembro e dezembro de 2016, a luta uniu secundaristas e universitários com o objetivo de impedir medidas consideradas prejudiciais à educação pública, como a reforma do Ensino Médio e a definição de um teto para os gastos públicos. Nessa ocasião, 19 estados aderiram às ocupações, que alcançaram as universidades e os Institutos Federais.

Luis Antônio Groppo

Luis Antônio Groppo, pesquisador de temas como educação e juventude, aponta contribuições do atual movimento estudantil para a sociedade

Ao acompanhar a trajetória dos jovens na primeira fase, Groppo detectou quatro características básicas: a autonomia em relação a partidos, sindicatos, outros coletivos e lideranças; a vivência da autogestão; a manifestação de uma relação afetiva com o espaço ocupado; e o protagonismo das mulheres. Na segunda “onda”, o movimento foi marcado pela coeducação entre jovens e adultos, uma vez que os professores também organizaram atos contra a PEC 241/55. “As ocupações, dessa vez, não aconteceram repentinamente. Foram preparadas com muito debate, aulas públicas, conversas. Além disso, foram acompanhadas de uma onda nacional de protestos. Por outro lado, foi uma fase de mais violência, o contexto já era de golpe institucional, muitos foram presos e perseguidos e ainda surgiram grupos de desocupação”, acrescentou Groppo.

Para o professor, os protestos sinalizaram uma transformação na ideia de política e no modo de encarar a vida em sociedade. “Os estudantes criaram consciência de que existem outras possibilidades de formação e outras maneiras de se inserir em redes de relacionamento social, político e profissional”, apontou. Groppo considerou esse resultado como algo positivo, sobretudo, para a educação. “O movimento das ocupações mostrou que existem outras formas de produção do conhecimento possíveis que valorizem o diálogo e a autonomia e não somente os resultados quantitativos”, finalizou.

No momento do debate, a plateia comentou sobre as ocupações realizadas em Goiânia. “Precisamos observar o que significou a ocupação do ponto de vista da experiência, da transformação do desejo. É algo mais do que pedagógico que tem a ver com uma prática de vida e com a ampliação dos horizontes do possível”, pontuou o professor da FCS Gabriel Omar Alvarez.

 auditório_palestra FCS

Faculdade de Ciências Sociais (FCS) realizou debate sobre ocupações feitas por estudantes em 2015 e 2016

Fonte: Ascom/UFG

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