Ciclo de debates 1

Reforma do Ensino Médio é tema de debate

Em 22/03/17 12:46.

Professores e graduandos se reúnem para discutir os rumos da Educação após reforma do Ensino Médio

Texto: Carolina Melo

Fotos: Ana Fortunato

 

A flexibilização do ensino orientado ao mercado de trabalho e a contratação de professores sem diploma específico foram os dois temas que tiveram maior destaque na mesa redonda realizada na manhã desta terça-feira (21), que discutiu a reforma do ensino médio e os atuais desafios da formação de professores. Parte do Ciclo de Debates das Licenciaturas, a discussão girou em torno da lógica de mercado que orienta a Educação, assim como da percepção de que o ensino médio é um campo de disputa ideológica.

 

O professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), João Ferreira de Oliveira, fez uma retomada histórica para demostrar que as atuais reformas têm raízes antigas, na formação das políticas educacionais brasileiras, vinculadas aos interesses de mercado. “O que está posto não é algo novo, é a retomada de um caminho percorrido desde 1970, com as políticas neoliberais”. Ele lembrou que já em 1942 e 1971 se discutia a profissionalização voluntária. “Estamos voltando a essa perspectiva”, acredita.

A discussão sobre a flexibilização do ensino no governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) também foi referenciada pelo professor. Para ele, as políticas que vinham sendo propostas em governos do passado tiveram campo e espaço para se fortalecerem no cenário nacional. “As políticas educacionais são formadas de forma vertical, à revelia da escola e professores. Reformas impostas dificilmente terão êxito, pois deixa em segundo plano as condições da escola e dos professores”, acredita.

Ciclo de debates

A professora da UFG, Agustina Rosa Echeverria, coordenou a mesa redonda

Em diálogo com João Ferreira, a professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Valdirene Alves de Oliveira, acredita que a reforma hoje reflete o que Florestan Fernandes dizia lá na década de 1980: “Historicamente a educação é elitista e excludente”. Segundo a professora, a perspectiva da flexibilização do ensino e da adaptabilidade do jovem ao mundo do trabalho, presente no governo FHC, encontrou terreno fértil também no projeto de Lei 6.840/2013, que reestruturou o ensino médio no governo Lula, e se concretiza com a atual reforma. “Já havia um ideário para a formação da juventude trabalhadora. Isso não cai de paraquedas agora”.

O professor Ramon Marcelino Ribeiro, do Instituto Federal de Goiás, admitiu a importância de fornecer condições para que o jovem trabalhe, mas, segundo ele, isso não deve instrumentalizar e descaracterizar o modelo universalizado da Educação. De acordo com o professor, a atual reforma vende a falsa ideia de protagonismo do jovem. “A lei garante a escolha do jovem aos itinerários formativos, mas limitada ao critério do sistema de ensino”, afirmou.

Formação de professores

De acordo com a reforma do Ensino Médio, profissionais com “notório saber” podem ministrar aulas para cursos de formação técnica e profissional, que estejam ligados às áreas de conhecimento do profissional. Da mesma forma, graduados sem licenciatura podem fazer uma complementação pedagógica que os qualifiquem a ministrar aulas. Segundo a avaliação do professor Ramon Marcelino, o que a reforma pretende com isso é esvaziar a escola de professores. “No sentido como está posto, a área de conhecimento não vem sendo utilizada para gerar interdisciplinaridade, mas sim para diminuir o número de professores. Transformam três professores de disciplinas diferentes em um único, via complementação pedagógica”, explicou.

 Cenários invisibilizados

A educação de adultos, o ensino noturno, assim como a educação intercultural de indígenas e quilombolas foram debatidos como áreas pouco privilegiadas pela reforma do Ensino Médio. “Há um completo descaso com a educação de adultos e o ensino noturno”, afirmou o professor Ramon Marcelino Ribeiro.

Por sua vez, o professor de História, coordenador institucional do Pibid Diversidade da UFG, Elias Nazareno, resgatou o histórico da colonização do Brasil, ocorrida com o suporte da escola jesuíta, para fazer referência à utilização da Educação como instrumento de poder. “A colonização leva à necessidade de alfabetizar e educar. Populações foram violentadas e epistemologicamente apagadas”. Segundo o professor, se o debate sobre a diversidade e sobre uma base curricular intercultural é difícil dentro da academia, fora da universidade o terreno não é muito favorável. “Se para os brancos a reforma do ensino médio é ruim, imagina para os indígenas e quilombolas”, provocou.

Fonte: Ascom UFG

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