Pesquisas responsáveis em cultura e identidade é tema de palestra

Em 12/11/15 17:34.

Elias Feijó defendeu pesquisas científicas relevantes e se opôs ao hermetismo na área de cultura e identidade.

Texto: Italo Wolff

A cultura, identidade e como pesquisá-las de forma relevante e responsável foram o tema da palestra ministrada pelo professor da Universidade de Santiago de Compostela, Elias José Torres Feijó. A palestra, intitulada Cultura, sustentabilidade identitária e responsabilidade social investigadora, ocorreunesta quinta-feira (12/11), no miniauditório professor Edígio Turchi da Faculdade de Letras (FL/UFG).

O professor explicou que, apesar de sua formação em estudos literários, ele não se identifica com eles. O grupo de estudos do qual ele é membro, composto por economistas, antropólogos, sociólogos, biólogos, entre outros, investiga a cultura por meio de modo consiliente. A consiliência, segundo a definição de William Whewell, "ocorre quando uma indução obtida de uma classe de fatos coincide com a indução obtida de outra diferente classe. Assim, consciliência é um teste da verdade dentro da teoria em que ela ocorre".

Elias Feijó expôs suas definições de cultura: modo com que as pessoas funcionam no mundo, sendo seus aspectos observáveis, como a língua, entendidos como bens e ferramentas – e identidade: elementos culturais, reconhecidos comunitariamente, que garantem coesão social. Desta forma, o professor citou a antropologia com caráter evolutivo como um exemplo de investigação cultural frutífera para além da mera classificação e divisão.  “A ostentação, por exemplo, é muito cultural, mas possui bases biológicas óbvias. O indivíduo quer mostrar que tem recursos. Imagine o quanto podemos aprender com o evolucionismo darwiniano.”

Um dos pontos abordados pelo grupo de estudos do professor é a sustentabilidade social, isto é, a investigação da hierarquia entre os itens que compõem a coesão social (culinária, vestimentas, hábitos, entre outros). Segundo Elias Feijó, tentar explicar quais são esses elementos, como se mantem e como podem se modificar é um imperativo, pois quando são ameaçados, a identidade cultural entra em risco. “É o caso de Barcelona, onde os turistas fazem uma leitura do povo catalã que não corresponde exatamente com a leitura que eles fazem de si mesmos. Ou de Veneza, onde lojas são voltadas para os turistas, e os moradores da cidade buscam bens para consumo diário em outra comunidade.”

Por isto, segundo Elias Feijó, o conhecimento produzido por esta área pode melhorar a qualidade de vida dessas populações, orientando propostas de programas e medidas de sustentabilidade social.  Para tanto, é necessário determinar a hierarquia entre itens de identidade, quais mudanças estão acontecendo, a relação de afetividade entre povo e cultura; identificar discursos internos e externos da comunidade em questão e analisar práticas culturais.

 O professor concluiu destacando a importância do retorno do trabalho para a sociedade. Defendeu trabalhos coletivos que considerem o todo (em oposição ao esforço individual cada vez mais especializado da atualidade), e a utilidade comunitária, como projetos de extensão que apliquem conhecimentos gerados pela pesquisa, projetos de ensino prático e reuniões para compartilhar resultados e ouvir demandas de toda a comunidade. “O objetivo máximo de uma pesquisa financiada com dinheiro público é melhorar a qualidade de vida da sociedade”, concluiu.

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