I Encontro do Socioeducativo do Estado de Goiás

Redução da maioridade penal e sistema de socioeducação em debate na UFG

Em 18/06/15 15:43.

Abertura do I Encontro Socioeducativo trouxe palestra sobre a ressocialização de adolescentes em conflito com a lei

Texto: Serena Veloso

Fotos: Carlos Siqueira e Serena Veloso

 

A UFG, por meio do Centro de Ensino, Pesquisa e Extensão do Adolescente (Cepea) da Faculdade de Educação (FE), realiza até sexta-feira, 19/06, o I Encontro Socioeducativo do Estado de Goiás. O evento, que ocorre na Faculdade de Direito, visa à contribuição na formação continuada de profissionais que atuam com o sistema de medidas socioeducativo, integrado aos projetos de capacitação da Secretaria Nacional de Direitos Humanos (SDH) e do Grupo Executivo de Apoio a Crianças e Adolescentes (Gecria). A abertura  foi realizada na manhã desta quinta-feira, 18/06, e teve a presença de diversas autoridades que atuam na área.

O Encontro faz parte das ações do segundo curso oferecido pelo convênio entre UFG e SDH, com a proposta de formação de 320 servidores dos sistemas socioeducativos de Goiás de meio fechado, ou seja, privativos de liberdade. O Gecria é responsável pela gestão das dez unidades socioeducativas existentes no Estado, distribuídas em seis municípios: Anápolis, Formosa, Goiânia, Itumbiara, Porangatu e Luziânia. De acordo com o Gerente da Criança e do Adolescente da Secretaria Cidadã do Estado de Goiás, Emiliano Rivello Alves, presente na ocasião representando o governador Marconi Perillo, a ideia é que a capacitação ocorra em todas essas cidades, sendo que em Goiânia o curso está sendo oferecido a 50 profissionais. “O compromisso do governo é de efetivar o sistema regional socioeducativo, com implantação de novas unidades e desativação das que não estão em condições de funcionamento”, alegou.

 

I Encontro Socioeducativo do Estado de Goiás

Coordenadora do Cepea, Geisa Mozzer, agradeceu a oportunidade de discutir e ampliar a formação de profissionais que atuam com jovens infratores

As ações estão alinhadas com uma das perspectivas do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), que organiza a execução das medidas no atendimento de adolescentes e jovens em conflito com a lei, articulada com as diversas instituições do governo municipal, estadual e federal, além do sistema judiciário e órgãos que trabalham com políticas setoriais básicas, como educação, cultura, saúde e assistência social.

O coordenador geral do Sinase, Cláudio Augusto Vieira da Silva, que também esteve na abertura, destacou que, desde 2013, o sistema tem buscado a integração com universidades e organizações não-governamentais para a composição de uma política de formação permanente na área em todo o Brasil, com foco na compreensão dos direitos do adolescente. “O encarceramento dos jovens não é uma saída. É muito mais barato e eficaz para o governo investir em medidas de educação”, acredita Cláudio Augusto. Para atender à iniciativa, estão sendo formados em cada estado brasileiro um núcleo gestor da Escola Nacional de Socioeducação, que trabalha na qualificação profissional, mas também no desenvolvimento de pesquisas, formulação e alteração de políticas públicas nesse sentido.

 

I Encontro Socioeducativo do Estado de Goiás

Manuel Rodrigues, vice-reitor da UFG, comentou a importância de políticas de inclusão social para a educação do jovem, como as implantadas pela universidade em relação de cotas sociais para graduação e pós-graduação

O vice-reitor da UFG, Manuel Rodrigues, ressaltou a importância da universidade na concretização dessas políticas em prol da sociedade e comentou o trabalho da gestão na promoção da inclusão social e no fortalecimento de núcleos interdisciplinares que possam se inserir nesses debates. “A ideia é que a UFG possa trabalhar no âmbito da pesquisa, ensino e extensão para contribuir como universidade pública federal para que essas políticas sejam fortalecidas a partir da relação institucional”, pontuou.

Redução da maioridade penal

A programação da abertura trouxe ainda uma conferência com o professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e assessor da Secretaria Nacional de Direito Humanos da Presidência da República, Paulo Cesar Duarte Paes, que discutiu Os desafios da ressocialização de adolescentes em conflito com a lei. Atuante no movimento de socioeducação, o professor da UFMS acredita que o país vive um retrocesso com as atuais discussões sobre a redução da maioridade penal, que não só fere a constituição, como demonstra o processo de criminalização da pobreza vivido pela sociedade. Para Paulo Cesar Duarte Paes, é necessário extrapolar a compreensão da violência como interna a cada indivíduo, mas entende-la como originária historicamente, sendo reproduzida ao longo de séculos. “O crime não nasce na cabeça do adolescente, ele vai se apropriando disso no convívio social”, enfatizou.

 

I Encontro do Socioeducativo do Estado de Goiás

Segundo Paulo Cesar Duarte Paes, redução da maioridade penal fere a constituição e demonstra o processo de criminalização da pobreza vivido pela sociedade

O professor defende que a reprodução da violência entre jovens está relacionada com diversos fatores, dentre eles o convívio com a violência no contexto familiar, escolar e social, a negligência, principalmente familiar, o abandono dos jovens, a discriminação e a privação, por exemplo, do contato afetivo. Esse sofrimento os tornaria mais vulneráveis no envolvimento com a criminalidade. No entanto, ainda assim, dos crimes praticados pelos jovens no Brasil, a maioria estão relacionados ao tráfico de drogas. “Os adolescentes são responsáveis por 0,9% dos crimes praticados no Brasil. E dos que cumprem medidas socioeducativas, apenas 11,7% cometeram algum crime contra a vida”, argumentou contra a redução da imputabilidade penal.

 

A programação do I Encontro Socioeducativo do Estado de Goiás se estende até sexta-feira, 19/06, com diversas atividades. Confira mais informações sobre o evento e programação aqui.

Fonte: Ascom UFG

Categorias: Última hora Faculdade de Educação Encontro cepea