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Parceria com UFG inaugura nova loja da agricultura familiar

In 12/12/18 15:58 .

Iniciativa foi promovida com expositores da Feira Agro Centro-Oeste Familiar

Texto: Gustavo Motta

Fotos: Carlos Siqueira

Em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), sete expositores da Feira Agro Centro-Oeste Familiar inauguraram uma loja colaborativa no Shopping Cidade Jardim. A inauguração ocorreu na última terça-feira (11/12), e contou com experimentação de guloseimas, como doces, licores, biscoitos, queijos, tapiocas e outros produtos tradicionais. O espaço deve ficar aberto ao público até 31 de dezembro, e conta com alimentos, peças de artesanato e decoração, além de saberes sobre a origem do que chega à mesa das famílias, direto das mãos e do conhecimento de quem entende melhor do assunto: os produtores.

Entre os artigos disponíveis à venda, constam perecíveis orgânicos, mel, derivados do leite, bebidas tradicionais, bens de artesanato, entre outros. A inauguração contou com a presença do Reitor Edward Madureira Brasil, além de representantes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Federação dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar do Estado de Goiás (Fetaeg), Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Estado de Goiás (Fetraf-GO), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), cooperativas e associações produtivas.

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Geraílton Ferreira dos Santos (Fetraf-GO) e Benaia Hanini (MST) com a faixa de inauguração do espaço

Iniciativa

Edward Madureira destacou que a iniciativa “traz visibilidade para todos, inclusive para a própria Universidade, cujas ações ainda precisam chegar à sociedade com maior eficácia”. O Reitor avalia que o empreendimento tem uma grande relevância social, pois prima “por aquilo que é mais caro a todos - o alimento que chega à mesa das casas”. Segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), 70% dos produtos que chegam às casas são oriundos da agricultura familiar, sendo que, conforme a Organização para Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO), o mesmo percentual se repete em escala global.

“Mesmo com limitações enormes de crédito, assistência técnica, logística e distribuição, esses produtores têm enfrentado desafios e se aprimorado no mercado - por isso, trazer os frutos desse trabalho a um grande shopping ajuda a formular uma consciência sobre a relevância da zona rural”. Para Edward Madureira, existe uma dicotomia entre o campo e a cidade: “ainda precisamos superar esse senso, pois não existe um sem o outro, não há vida na cidade sem a produção e o comércio dos produtos que fazem parte do nosso dia-a-dia”.

O coordenador da feira, professor Gabriel Medina, avalia que a loja (a segunda a ser inaugurada pelos produtores) é resultado da experiência obtida ao longo das edições da Agro Centro-Oeste Familiar: “sentimos que os nossos expositores estavam se especializando e se aprimorando em grande velocidade - melhorando as embalagens, a composição dos produtos e fazendo adequações às normas de vigilância sanitária”. Nesse sentido, foi proposto o desafio de se apresentar alimentos e peças de artesanato em um grande shopping da capital.

A primeira loja foi inaugurada em 14 de novembro, no Shopping Passeio das Águas. “A experiência foi bem sucedida e, por isso, recebemos um convite do Shopping Cidade Jardim para a criação desse segundo espaço”. Iva Ana Rezende, presidente da Associação dos Pequenos Produtores Rurais da Região de Bom Sucesso (Apro-Bom), é uma das produtoras com grandes expectativas para o comércio na segunda loja: “queremos gerar renda e lucro, além de apresentar o nosso trabalho para um público amplo”.

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Da esquerda à direita: professores Gabriel Medina e Graciella Corcioli (da organização), com Reitor Edward Madureira

Exposição

As expectativas dos produtores são as melhores possíveis: “as pessoas estão vindo e adquirindo nossos produtos”, afirmou Benaia Hanini. Residente no Assentamento Dom Hélder Câmara, em Itaberaí (centro goiano), a expositora trouxe bens artesanais, além de geleias, condimentos, doces, queijos, entre outros alimentos. Membro do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Benaia acredita que a exposição serve para conscientizar as pessoas sobre o potencial de quem vive na zona rural e colaborar na formulação de uma opinião diferente sobre os movimentos no campo, que sofrem com a criminalização da luta agrária.

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Benaia Hanini: loja serve para conscientizar as pessoas sobre o potencial de quem vive na zona rural

“Muita gente chega aqui e se emociona, se lembra dos parentes mais velhos na roça”, confidenciou. Entre os muitos consumidores que passaram pelo local, Ione de Fátima conta que a presença da loja chamou a atenção: “não é todo dia que temos a chance de comprar direto dos produtores, e isso nos aproxima com o campo e com nossas próprias raízes”. A mulher conta que adquiriu um doce de leite em pedaços, e outro de compota. “Degustei, e tudo aqui é maravilhoso - inclusive já estou divulgando no grupo da família”, afirmou aos risos, apontando para a interface do aplicativo WhatsApp no smartphone pessoal.

Ione apareceu e deve trazer mais pessoas, mas também teve quem não pôde comparecer. É o caso de Amélia Vieira Braga, artesã cujo trabalho foi representado pela filha Marcela. Oriunda de Mairipotaba (sul goiano), a jovem trouxe artigos de tecido à base de algodão em retalhos, como bonecas, colchas, forros e outros utensílios, produzidos no âmbito da Cooperativa Mista dos Agricultores Familiares de Mairipotaba (Comafam). “Essa loja é um exemplo para o empreendedorismo dos pequenos produtores familiares e, com certeza, pode nos render grandes resultados”, avaliou.

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Ione de Fátima foi uma das pessoas que adquiriu produtos: "tudo aqui é maravilhoso"

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Marcela Braga exibe produtos, como almofadas e aventais, de composição 100% algodão

Outro produto de grande demanda é o fruto desidratado, trazido por agricultores de Iporá (centro goiano) organizados na cooperativa “Viver da Terra”. Iolanda Nascimento conta que “o resultado de comercialização e divulgação dos bens tem sido espetacular”. Um dos diferenciais da cooperativa é o processamento do açafrão em pó (cúrcuma) e na forma de cápsulas. “Há pessoas que querem usar esse condimento, mas o evitam, pois o pó tende a agredir a garganta - por isso estamos atendendo uma nova demanda do público”. Ademais, derivados da cana de açúcar, como cachaças, melados e rapaduras, constam entre os diversos produtos trazidos para a loja.

Entidades

O Presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais na Agricultura Familiar do Estado de Goiás (Fetaeg), Alair Luiz dos Santos, elogiou a qualidade dos produtos: “isso aqui valoriza um trabalho desenvolvido sem agrotóxicos e com grande responsabilidades sociais e ambientais”. Para o público urbano, Alair acredita que o diferencial da loja é permitir o comércio de bens, cuja produção não agride o meio-ambiente, e cujo comércio é acessível - de menor custo, uma vez que os itens podem ser negociados direto com o produtor. “Essa loja é um empreendimento muito arrojado, pois vai na contramão das dificuldades históricas de Goiás, pela organização dos trabalhadores no campo”.

O Coordenador da Reforma Agrária e Meio Ambiente da Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Estado de Goiás (Fetraf-GO), Geraílton Ferreira dos Santos, pontuou que a iniciativa confere um destaque novo à agricultura familiar: “muitas vezes, na lavoura, ficamos nos bastidores da produção, e aqui podemos ter um protagonismo sobre o comércio dos produtos”. O representante da entidade conta que, muitas vezes, a divulgação sobre o trabalho na agricultura familiar é negligenciada em favor do agronegócio em grande escala. “Existe um grande espaço na imprensa sendo conferido à cultura da soja que, infelizmente, expulsa o trabalhador do campo e provoca um rastro de degradação ambiental”, lamentou.

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Representantes de entidades aproveitaram ocasião para discutir as facetas da agricultura familiar

Um dos resultados negativos dessa falta de visibilidade é a sensação de distanciamento entre quem produz e quem consome. Por isso, o Gerente de Operações da Companhia Nacional de Abastecimento em Goiás (Conab), Sírio José da Silva Júnior, ressaltou que é necessário favorecer o contato entre as pessoas situadas nos extremos da esteira produtiva - sem um mediador. “Aos poucos, tem se tornado uma tendência, que os indivíduos estejam cada vez mais engajados em causas sociais, de modo que isso influencia comportamentos de consumo, portanto, quem compra vai querer conversar com quem produz, para saber sob quais condições é feito o que chega até a mesa”.

Para o dirigente do MST em Goiás, Gilvan Rodrigues, a iniciativa contempla a tendência de relação cada vez mais próxima entre quem produz e que adquire os produtos. "Existe uma responsabilidade social muito grande aqui, e o MST ocupa uma posição de grande relevância na promoção de um trabalho saudável, livre do uso de agrotóxicos - nós temos como prioridade a produção orgânica e agroecológica, e isso é demandado pelo público". O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, fundado em 1984, é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina e se consolidou na defesa da produção familiar.

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Da esquerda à direita: Reitor Edward Madureira Brasil (UFG) e Alair Luiz dos Santos (Fetaeg)

Espaço

O local vai ficar disponível para a exposição e comercialização dos produtos até o dia 31 de dezembro, aberto ao público de segunda a sábado, entre as 10h e 22h. A loja ainda vai ficar aberta aos domingos, entre as 14h e 22h. Além da comercialização dos bens, serão efetuadas inscrições para as atividades da Agro Centro-Oeste Familiar 2019. “A nossa proposta é relevante, pois condiciona a inserção comercial dos agricultores - por meio do aprimoramento das técnicas de produção, processamento, embalagem e comercialização”, destacou Gabriel Medina. Os expositores participaram de cursos e receberam consultorias especializadas para a abertura do espaço, oferecidas por professores do curso de Engenharia de Alimentos da UFG.

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Degustação de bebidas, doces, queijos e geleias fizeram a alegria de quem conheceu a loja

Universidade

Edward Madureira afirmou que a Universidade tem se dedicado a atuar junto aos produtores, em comunidades assentadas e tradicionais, com objetivo de melhorar o desempenho produtivo e a qualidade de vida na zona rural. Uma das atividades que estão sendo desempenhadas, em parceria com a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), contempla populações ribeirinhas, quilombolas e indígenas, em 127 localidades, espalhadas em 45 municípios goianos. “Estamos realizando esse trabalho desde o ano passado, e teremos mais dois anos de intensas colaborações”.

Ademais, a Universidade oferece cursos de formação e capacitação para agricultores familiares. Uma das ações históricas foi a criação de uma turma de Direito, apenas com beneficiários da Reforma Agrária, na Cidade de Goiás. “Tivemos turmas de Pedagogia da Terra, que formavam professores para as escolas rurais, e estamos planejando uma turma de Agronomia com os produtores familiares para 2019/2”. O Reitor destacou que essas experiências têm permitido uma intensa troca de saberes entre a Instituição e as comunidades.

Agro Centro-Oeste Familiar

A Agro Centro-Oeste Familiar é uma feira de exposições que chega com sucesso à Edição 2019. O evento será realizado no Centro de Cultura e Eventos Professor Ricardo Freua Bufáiçal, localizado no Campus Samambaia da UFG. A programação vai ocorrer ao longo de quatro dias (29 de maio a 01 de junho), com estandes, comércio de produtos, cursos, visitas a espaços de cultivo, exposição de tecnologias agrícolas e apresentações culturais.

Fonte: Secom/UFG

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