Mestrado México

Mestrado além das fronteiras

Em 30/11/18 17:34.

Iniciativa inovadora permitiu que mestrandos brasileiros e mexicanos construíssem conhecimento de maneira conjunta, mas sem deixarem seus próprios países

Texto: Aline Borges
Fotos: Natália Cruz

Eram 17h no Brasil e meio-dia na Cidade do México de uma quinta-feira (29/11) quando Professores e alunos do Programa de Mestrado em Direitos Humanos da Universidade Federal de Goiás (UFG) e de Desenvolvimento Educacional da Universidad Pedagógica Nacional (UPN) da Cidade do México reuniram-se, cada turma em seu próprio país, para encerrar um período inteiro de atividades e trocas de conhecimento. A tecnologia tornou possível que diversos encontros acontecessem ao longo dos meses, mesmo há quilômetros de distância, em espanhol, português ou o bom e velho portunhol quando faltavam palavras para discussões tão sérias e tocantes à realidade, como questões de gênero, violência, migração e racismo, dentre tantos outros temas que tocam tão profundamente ambos países.

O caráter inovador da iniciativa foi destacado pela coordenadora do mestrado em Direitos Humanos, Helena Esser, ao afirmar que “eu perguntei por aqui e ninguém soube me dizer sobre nenhuma experiência como esta. Então, os parabenizo por essa inovação acadêmica de cooperação. Acredito que, nestes tempos duros que se aproximam, sobretudo por questões financeiras, temos que aprender a buscar outras formas de nos integrar e inteirar sobre o que estamos fazendo e de compartilhar conhecimento, então tudo isso foi muito importante para nós”.

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Helena Esser elogiou a iniciativa

Compartilhar, construir e transformar

A ideia de fazer a disciplina compartilhada entre Brasil e México partiu da antropóloga e professora de Pós-Graduação em Direitos Humanos, Rosani Moreira, em um esforço de trazer para as alunas da turma outras perspectivas e visões de mundo, além estreitar ainda mais a relação de mais de dez anos entre as universidades e marcar o fim do período de dois anos e meio do professor da UPN, Antonio Carillo, como pesquisador visitante na UFG. “Nós pensamos em aproveitar o último semestre dele aqui e intensificar esse intercâmbio e trabalhar com o Programa de Pós-Graduação que ele conhece lá, conhecer os pesquisadores e estudantes, ter um panorama dos temas que eles têm trabalhado e apresentar o que nós fazemos aqui, com o objetivo de consolidar o intercâmbio e nos enriquecer também, à medida em que conhecemos um pouco mais do país, da cultura do outro, além de proporcionar essa oportunidade para nossas alunas.”, explica Rosani.

Em seu tempo no Brasil, Antonio reuniu boas experiências e aprendizados e conta que uma das características mais interessantes dessa iniciativa é que ela surgiu a partir de uma ideia pensada entre amigos que tem se consolidado cada vez mais “o que me chama a atenção é que, agora, outros professores da Alemanha e de outras universidades do México demonstraram interesse em se unir a nós. E as autoridades daqui têm nos apoiado bastante para que possamos crescer nessa proporção”, comemora Carillo. Além disso, ele pontua o fato de que “México e Brasil têm muitos pontos em comum”.

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Por meio de videoconferências, professores e alunos puderam construir conhecimento conjunto.

A respeito dessas semelhanças, Maurides Batista, professora aposentada da UFG, que retornou à casa para fazer parte da disciplina afirma que tudo foi uma grande e grata surpresa. “Nós conhecemos um pouco do cotidiano das outras universidades e, sobretudo, eu percebi que temos muito mais pontos em comum do que eu imaginava”. Ela assinala também que o companheirismo e apoio de ambos os lados foram fundamentais para o processo de aprendizagem. “Eu acho que esse tipo de atividade nos testa e nos enriquece. É sempre um aprendizado. O encerramento é um momento oportuno para avaliar e, para mim, foi muito positivo. Eu acho que o melhor da universidade eu conheci no final”, explica.

Na programação, os estudantes mexicanos puderam compartilhar parte dos estudos que desenvolveram ao longo do período de mestrado. Como o programa na UPN tem como objetivo desenvolver um marco conceitual e metodológico para a compreensão do fenômeno educativo, tendo como marco as relações entre cultura, instituição e sujeito, os grupos de trabalho buscaram explorar temas tocantes à realidade do país, os quais, em boa parte, vieram ao encontro do que tem sido desenvolvido por aqui.

Como exemplo desses eixos temáticos que se encontram apesar dos quilômetros de distância provando que a questão social é além das fronteiras, Rosani explica: “nós temos uma aluna trabalhando com imigração, outra discutindo gênero e racismo a partir do feminicídio de mulheres negras e esses problemas juntam muitas variáveis, como questões de gênero, raça e violência. Eles também têm trabalhado com algumas dessas perspectivas, tendo como foco o ambiente escolar, a violência nas escolas e como encarar esse problema. Nós temos alunas trabalhando com alfabetização de menores infratores e lá eles também estão preocupados com essas coisas.”

A professora completa dizendo que “é o momento de juntar nossas forças para compreender questões teóricas academicamente, mas também de nos instrumentalizar para compreender e contribuir também com a resolução dos problemas sociais, que é algo muito presente nessa turma. São todas mestrandas, estão teoricamente discutindo seus temas, mas também estão muito comprometidas e envolvidas com a realidade social e cada uma está trabalhando a partir da sua própria realidade. É possível constatar a mesma preocupação por parte dos mexicanos”.

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Professor visitante da UFG há dois anos e meio, Antonio Carillo foi a ponte que ligou ambos países

Fonte: Secom UFG

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