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Gritando contra os silenciamentos da violência

Em 18/10/18 09:29.

XIII Congresso de Psicologia da UFG oferece vasta programação para discutir Direitos Humanos, violência e suas complexidades

Texto: Caroline Pires

Fotos: Adriano Justiniano

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Não se calar diante dos silenciamentos da violência. Esse foi o principal grito dos participantes do XIII Congresso de Psicologia da UFG, que segue até a sexta-feira na Faculdade de Educação. Na manhã desta quinta-feira (18/10), o auditório da unidade acadêmica recebeu a mesa-redonda Maria Eduarda: Criminalização da Pobreza e a Psicologia na Assistência Social. As atividades receberam o nome de mulheres e meninas que foram assassinadas por forças policiais.

O jornalista Thalys Alcântara apresentou dados sobre a violência em Goiânia. Segundo ele, no ano de 2018 houve um aumento de 78% nos casos de mortes por intervenção policial, ao todo foram 233. Ele lembrou ainda a dificuldade de trabalhar com esse tema e ter acesso aos dados da violência na cidade. "A falta de transparência é algo que precisa ser vencido", ponderou.

Thalys Alcântara realizou um mapeamento das intervenções violentas e pôde afirmar que a grande parte dos casos de morte está concentrada em regiões periféricas de Goiânia. "É importante compartilhar essas experiências e cada vez mais começar a falar sobre essas questões ainda obscuras", afirmou. Em sua fala, ele lembrou as mortes de Wallacy Maciel, em 2017, Edivan Aprízio, em 2017, além da pouca divulgada chacina acontecida em Goiânia no dia 7 de abril de 2017, com sete mortes.

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Congresso de Psicologia da UFG reuniu estudantes e professores para discutir as violências físicas e simbólicas

População armada

O professor Dijaci David, da Faculdade de Ciências Sociais da UFG, iniciou sua fala afirmando, com base em dados, que mesmo após o estatuto do desarmamento a população brasileira está armada. "Eu não tenho dúvida de que essas armas estão na mão da elite", afirmou. Segundo ele, essa atuação não é apenas no Brasil, mas há uma tendência mundial para enfraquecer os movimentos sociais e os direitos já conquistados. "Existe a construção de um discurso negativo sobre os Direitos Humanos, como se fosse uma defesa de criminosos. Há um desconhecimento generalizado sobre o tema e uma desvalorização completa do direito à vida", defendeu o professor.

Pesquisas desenvolvidas pelo Núcleo de Estudos sobre Criminalidade e Violência da UFG têm demonstrado que a grande maioria dos policiais denunciados, mesmo quando são julgados, não chegam a cumprir pena. Ele afirmou ainda que as mortes produzidas no Brasil nos últimos cinco anos foram maiores que nos Estados Unidos em 30 anos. "Na prática nós temos a pena de morte no nosso país, mas sobre um grupo específico", afirmou. O professor afirmou ainda que o encarceramento em massa não resolve o problema da violência, muito pelo contrário, fornece toda a estrutura que o crime organizado necessita. "Daqui para frente o que nos resta é resistir", concluiu.

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Professor da FCS/UFG, Dijaci David de Oliveira: "não tenho dúvida de que as armas estão na mão da elite"

Criminalização da pobreza

Em seguida, a professora Lívia Gomes abordou a psicologização da pobreza e os mecanismos do enfrentamento, ressaltando que essas questões estruturais devem ser olhadas com muito cuidado. "Devemos fazer o trabalho de pensar a psicologia para não sermos acríticos ou criticar sem dar corpo. A psicologia não é uma entidade que paira nas nossas cabeças e não está descolada da realidade", afirmou. Sobre a criminalização da pobreza, a professora lembrou que ela é uma prática inerente do capitalismo e se trata de uma questão de classe. "O pobre mostra que o capitalismo não funciona", arrebatou.

A professora abordou ainda a história de Maria Eduarda, a menina de 13 anos morta em uma escola no Rio de Janeiro e que deu nome à mesa-redonda. Lívia criticou a ideia de que a violência atinge sempre um "outro" que está distante da gente e apresentou alguns dos comentários feitos na época em notícias. Segundo ela, isso é só a superfície dos efeitos nefastos que a criminalização da pobreza aponta.

Fonte: Secom/UFG

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