evento biodiversidade

Encontro debate desafios regionais nas pesquisas em biodiversidade

Em 16/10/18 15:38.

Iniciativa no Conpeex reuniu ex-discentes da UFG que atuam em outras localidades do país

 

 

Texto: Gustavo Motta

Fotos: Natália Cruz

 

Com o objetivo de discutir a regionalização dos Programas de Pós-Graduação na área de Biodiversidade, além dos desafios enfrentados pelos profissionais que se deslocam dos grandes centros acadêmicos para localidades no interior, o Instituto Nacional de Ciência & Tecnologia em Ecologia, Evolução e Conservação da Biodiversidade (INCT/EECBio) promoveu, na última segunda-feira (15/10), uma mesa-redonda com professores formados pelo Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Goiás (ICB/UFG), mas que escolheram atuar em outras regiões ou no interior goiano.

Realizado no Auditório do ICB I e incluso na programação do 15º Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão (Conpeex), o encontro teve como propósito discutir experiências na redução das desigualdades regionais na produção de pesquisas voltadas à questão da biodiversidade. “Esse evento ocorre no âmbito da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e contempla uma área relativamente nova, que cresceu - e se expandiu pelo Brasil”, destaca o professor José Alexandre Diniz, co-coordenador da atividade, juntamente com o professor Adriano Melo. Os convidados foram Levi Terribile, João Nabout, Leandro Juen, Ludgero Vieira, Sidney Gouveia e Victor Landeiro, que passaram pelos programas de mestrado e doutorado da Instituição.

 Evento sobre biodiversidade
Estudantes, professores e pesquisadores participaram de mesa sobre desafios para superar desigualdades regionais em pesquisas

Choque e novidade

A professora Levi Terribile destacou a experiência de atuação na Universidade Federal de Jataí (UFJ). “O fim do meu doutorado e o começo da docência ocorreram entre 2008 e 2009, quando saiu um Edital na (então) Regional Jataí”, rememora. Enquanto estudante de doutorado no ICB, Terribile lembra do choque que teve ao se perceber em um outro espaço, distante de um grande centro de pesquisa: “Para quem antes tinha o acesso a toda uma estrutura de laboratórios e convivia com pesquisadores-referência, atuar em um espaço sem as condições necessárias de estrutura para o desempenho das atividades foi um choque”.

Nesse sentido, a docente conta que a sua trajetória positiva foi marcada por dois aspectos, relevantes para quem deseja ingressar na carreira acadêmica em outra localidade: “Firmar relações de colaboração com outras pessoas e buscar informações sobre Editais de fomento à pesquisa”. Contudo, Victor Landeiro, outro convidado, destacou que para trilhar uma boa carreira em outra região é necessário, acima de tudo, o desejo de buscar novos lugares. Professor na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Landeiro passou por um Pós-Doutorado na UFG, concluído em 2012. Em sua fala, o docente tratou da motivação sobre ser reconhecido em um ambiente que ainda precisa evoluir em qualidade de pesquisas.

“Quando fui para Cuiabá, acreditei que poderia ser mais relevante lá do que em Goiás, visto que aqui já existe uma cultura consolidada de pesquisa em biodiversidade”, alega. Nesse sentido, Landeiro acredita que poderia contribuir mais com o fortalecimento acadêmico local. No entanto, o professor enxerga um entrave ao desempenho de investigações na área, devido à diminuição de aportes financeiros do Ministério da Educação (MEC). “Sendo assim, buscar alternativas é ajudar a instituição a se fortalecer”, argumenta. A exemplo de parcerias, o docente lembra que conseguiu, ao longo dos anos, a destinação de recursos obtidos junto a Organizações Não-Governamentais (ONG’s), agências de fomento, secretarias municipais de meio-ambiente, instituições privadas, entre outras entidades alternativas à tradicional fonte de recursos que é o MEC.

Victor Landeiro
Professor Victor Landeiro (UFMT) destacou fator motivacional na adesão ao trabalho em novas localidades

Problemas e soluções

Ludgero Vieira, professor pela Universidade de Brasília (UnB) em Planaltina, lembrou a estrutura do campus de atuação ao chegar no local pela primeira vez, em 2009: “Tínhamos apenas um prédio, com objetivo de abrigar uns poucos cursos de graduação”. Na atualidade, o espaço conta com quatro cursos dessa categoria, além de cinco programas de pós-graduação. Nesse contexto, o convidado apresentou problemas que podem ser enfrentados quando se chega a um lugar que é estruturalmente menor, mas ainda apresentou ações que podem ajudar a resolver tais deficiências. O primeiro problema a ser citado foi a falta de espaço físico e a carência de professores.

No entanto, o palestrante destacou que a submissão de projetos, a apresentação de resultados produtivos, e a solicitação de demandas para a ocupação física, são ações que direcionam a instituição a entender a necessidade de melhoria do espaço. “Atrair os alunos para a pesquisa e a extensão é fundamental para mostrar que o local está sendo aproveitado e que ainda precisa ser aprimorado para o exercício de funções”. Na sequência, citou a “demanda exagerada por responsabilidades administrativas” como um segundo problema, que exige do professor a participação nas atividades do campus, assumindo cargos de chefia e buscando coordenar ações.

Na sequência, foi citada a “falta ou escassez de pessoas qualificadas”, problema que exige do professor o investimento na produtividade dos estudantes. Outro impasse lembrado foi a “inexistência de programas de pós-graduação”, o que exige ao docente propor a abertura de novos cursos em stricto sensu. Quanto à pós-graduação, Leandro Juen destacou que, na Universidade Federal do Pará (UFPA), percebeu certa dificuldade dos alunos na graduação para serem aprovados no mestrado. “Nesse sentido, reformamos o Projeto Curricular da Graduação em Biologia, incluindo novas disciplinas”.

O convidado percebeu que muitos estudantes vinham de outras regiões, como o Sul e Sudeste, e voltavam após a conclusão do curso. Nesse sentido, era necessário favorecer a permanência de jovens com origem local. “76% desses graduandos vivem com renda familiar igual ou inferior a um salário mínimo, contudo, percebemos como a ciência pode melhorar a vida das pessoas”. Juen conta que muitos dos ingressantes, que antes viviam sob condições precárias em comunidades ribeirinhas, conseguiram trazer suas famílias para uma nova casa e uma nova vida. “Hoje, nossos alunos estão inseridos no mercado local - em redes públicas de ensino, institutos de pesquisa, ONG’s, empresas privadas e universidades”, concluiu.

 Professores de biologia
Da esquerda à direita: professores Ludgero Vieira (UnB), Levi Teribile (UFJ) e Leandro Juen (UFPA)

Êxodo e regionalização

Diferente dos demais convidados, que se formaram em Goiás e abraçaram oportunidades em outras localidades, Sidney Gouveia retornou à região de origem. “Eu terminei o doutorado na UFG em 2013, e retornei para a instituição onde havia concluído minha graduação e mestrado - a Universidade Federal de Sergipe (UFSE)”. Sendo o único dos palestrantes oriundo do Nordeste, o convidado afirma que a região assistiu a uma expansão no estabelecimento de programas de pós-graduação em Biodiversidade. “O que está por trás disso é o modo pelo qual as pessoas enxergam as desigualdades”, ressaltou. Nesse sentido, o professor acredita que “o ato de ocupar espaços e trabalhar para adquirir relevância pode criar novas oportunidades na redução de deficiências na produção acadêmica, no âmbito da regionalidade”.

Sidney
Professor Sidney Gouveia (UFSE) estudou em Goiás e retornou ao estado de origem

“Quando você consegue desenvolver um grupo de alunos apto a desempenhar pesquisas e que assumam responsabilidades, você ajuda a criar uma cultura de ampliação dos indicadores produtivos”, destacou. Sendo assim, fortalecer o centro de estudos local é de extrema relevância para fortalecer a ciência regional. Esforço semelhante foi assumido por João Nabout, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG) em Anápolis. O docente lembra que, fundada em 1999, a instituição surgiu com objetivo de diminuir as desigualdades acadêmicas entre a capital e o interior goiano, e regionalizar a produção e difusão do conhecimento acadêmico.

Após a conclusão do doutorado em 2009, o professor ingressou na instituição. “Quando cheguei, o nosso campus ofertava quatro cursos de pós-graduação - nenhum em Biodiversidade”, lembra. Considerando a necessidade de aprimorar a formação local, Nabout participou da criação do primeiro programa de pós-graduação na área, em 2012. Em 2016, o docente participou da inauguração do primeiro curso de doutorado na UEG, sendo esse o primeiro na história da universidade. “Por meio dessa dedicação, podemos superar desafios e favorecer condições de intercâmbio, além de promover uma rede de vínculos acadêmicos que nos ligam a professores e pesquisadores de outros lugares”, avalia.

Nabout
Professor João Nabout ajudou na criação do primeiro curso de doutorado na UEG

Realidade

O professor Adriano Melo destacou o crescimento numérico de mestrados e doutorados em biodiversidade. “Essa área tem crescido muito desde a década de 1970, e teve um salto nos últimos 15 anos”, ressaltou. Sobre números mais recentes, Adriano Melo conta que em 2017 haviam 141 cursos de mestrado e 92 de doutorado nessa área. Contudo, diante desses dados, destaca que “desde 2017, tem-se priorizado a qualidade desses programas, em detrimento da quantidade”. Contudo, ainda existe um grande esforço para o estabelecimento de doutorados, inclusive a UFG tem pleiteado, junto à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), pela criação de um doutorado profissional na área.

Professor Adriano
Professor Adriano Melo (ICB/UFG) abordou expansão dos Programas de Pós-Graduação em Biodiversidade

“É impressionante perceber como esses jovens que passaram pela UFG, estão ajudando a modificar as desigualdades regionais na academia”, comemora - do mesmo modo que Goiás passou por tal processo, iniciado na década de 1990. O professor José Alexandre, citado no início da matéria, chegou a ser lembrado ao longo das discussões como um dos responsáveis por esse trabalho na academia goiana. “Muito do que acontece com esses professores jovens, aconteceu com a minha geração de educadores, cerca de 20 anos atrás”, lembra o co-coordenador da mesa-redonda. Nesse sentido, o acadêmico conta que a área de Biodiversidade era incipiente no estado. “Contudo, para se ilustrar os avanços obtidos, temos atualmente um Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução, com Conceito 7 na avaliação da Capes”, comemora.

Professor José Alexandre
Professor José Alexandre mediou as falas dos convidados e destacou evolução da área na UFG

Iniciativa

A professora Thannya Nascimento Soares, sub-coordenadora de comunicação e divulgação científica do INCT/EECBio, destaca que a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia é um evento promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), com objetivo de divulgar a ciência em diversas instituições e níveis do ensino. Nesse ano, o tema foi “Ciência para a redução das desigualdades”, avaliado como pertinente, uma vez que “o conhecimento científico ajuda a incluir as pessoas e as colocar no mesmo patamar de compreensão do mundo tecnológico no qual vivemos”. Nesse contexto, o instituto foi criado em 2004, com o objetivo de criar, ampliar e formalizar redes de cooperação entre mais de 120 pesquisadores, de diferentes entes acadêmicos no Brasil e no exterior.

Fonte: Secom/UFG

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