Mesa-redonda inclusão e alfabetização

Seminário apresenta propostas de inovação para educação inclusiva

Em 28/09/18 14:25.

Software que auxilia na alfabetização de estudantes com Síndrome de Down é uma das inovações estudadas

 

Texto: Aline Borges
Fotos: Natalia Cruz

Nos dias 25 e 26 de setembro, o Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae/UFG), por meio do Programa de Pós-Graduação Ensino na Educação Básica (PPGEEB), realizou o V Seminário de Dissertações. O evento contou com diversas atividades, como conferências, mesas-redondas e rodas de conversa com o objetivo de promover não só uma análise crítica, mas também a troca de experiências e perspectivas acerca dos trabalhos que têm sido desenvolvidos no programa de mestrado.

A educação inclusiva foi um dos temas abordados. Durante a mesa-redonda “Inclusão e alfabetização”, que ocorreu na tarde de quarta-feira (25/9), a mestranda Tatiane Soares pôde apresentar sua proposta de desenvolvimento de um software de alfabetização fônica para alunos com Síndrome de Down. Já a professora e doutora Jaqueline Araújo apresentou o trabalho feito juntamente com sua orientanda, Rosângela Pereira, cujo objetivo é propor formas de mediações pedagógicas para alfabetização geométrica de crianças autistas.

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O desafio da inclusão

A Constituição Federal define, por meio do artigo 205, a educação como “direito de todos e dever do Estado e da família”. Além disso, a Lei nº 9.394, capítulo V, define a educação especial, assegura o atendimento aos educandos com necessidades especiais e estabelece critérios de caracterização das instituições privadas sem fins lucrativos. Ao longo dos anos, uma série de outras medidas e alterações têm sido pensadas para tornar a educação de fato inclusiva no Brasil. Entretanto, de acordo com Jaqueline “a legislação é boa, mas a ‘coisa’ efetivamente acontecendo na prática ainda está aquém”.

A pesquisadora expõe que “em relação à inclusão, principalmente quando a gente observa dentro do contexto da educação brasileira, da educação profissional, o que nós percebemos é que há uma certa carência, um certo desconhecimento em termos de referenciais, de teoria, de desenvolvimento didático, pedagógico, metodológico para se trabalhar com crianças, jovens e adultos dentro da educação especial, numa perspectiva da inclusão. No Brasil, nós temos poucos estudos ainda relacionados com essas questões, principalmente quando a gente fala sobre a questão das intervenções pedagógicas, de pensar tecnologias de inovação, isso ainda diminui consideravelmente”.

Foi esse incômodo com a realidade que motivou Tatiane a iniciar sua pesquisa de mestrado. A pedagoga conta que é uma inquietação vinda desde a graduação. “A situação das crianças com Síndrome de Down já me incomodava porque era muito nítida a exclusão delas na escola regular. Enquanto as crianças estavam sendo alfabetizadas, estavam fazendo uma atividade, elas estavam com outra atividade, ou às vezes nem atividades faziam, estavam ali brincando. Outra coisa que me chamou a atenção era a forma como a escola via essa criança, até os próprios profissionais que trabalhavam com elas, eles viam muito um caráter assistencialista, como se eles estivessem ali somente para cuidar daquela criança enquanto ela estava lá na instituição, não tinha uma preocupação com o desenvolvimento daquela criança”, explica.

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Caminhos

“Será que é só até aí que essas crianças conseguem ir? Será que é só isso que as escolas podem fazer por elas?” Tais perguntas ecoavam na mente de Tatiane quando ela ingressou no mestrado profissional do Cepae. “A partir da minha pesquisa eu vi que não. Elas podem ir muito mais longe e a escola pode e deveria fazer muito mais”, completa a pesquisadora que, para sua dissertação de mestrado, analisou uma tecnologia já utilizada para a alfabetização de crianças com Síndrome de Down e, a partir dessas observações, conseguiu compreender qual modelo de software seria realmente eficaz no letramento desses estudantes.

Mas os resultados não foram tão satisfatórios quanto ela imaginava. “O software que eu analisei não é fruto de pesquisa, ele é vindo de um método ainda tradicional. Seus desenvolvedores não são graduados na área de pedagogia, não partem de uma vivência e análise como a minha minha” concluiu. Com isso, Tatiane espera, em um futuro doutorado, colocar o protótipo, descrito como GDD (Game Design Document), em prática. “A gente pretende aliar as pessoas e, principalmente, o que os jovens já gostam, que é a tecnologia, a um recurso inovador que ainda poucas pessoas experimentaram e que tem um grande potencial para engajar e para fazer a aprendizagem de forma lúdica e prazerosa para as crianças”, explica Tatiane.

Jaqueline, por sua vez, explica sua missão como um caminho ainda a ser trilhado. Em conjunto com sua orientanda, a doutora conta que aplicar sua pesquisa com um aluno autista é um desafio, tanto em virtude das próprias características únicas dessas pessoas em que “cada um é um mundo inteiro”, como explicou Jaqueline, quanto pela falta de acessibilidade que ela encontra na própria escola onde instituiu seu campo de pesquisa.

Essas e tantas outras questões colocaram as educadoras em situações metodológicas, científicas e sociais muito próprias. Nestes momentos é que Jaqueline defende a necessidade tanto de existir um programa de mestrado profissional capaz de envolver “a questão de uma pesquisa aplicada e, que esta pesquisa aplicada de certa forma coaduna aspectos teóricos, que faz um movimento em relação a aspectos práticos que, por sua vez, gera conhecimento”, aponta a doutora.  

Ela apoia também o movimento de adentrar em áreas da ciência que não são necessariamente a que ela estava habituada. “A nossa abertura enquanto investigadores, de conversarmos uns com os outros, é fundamental e latente. Nós estamos muito fechados nas nossas caixinhas e uma coisa que a inclusão tem me ensinado muito é que não existe caixinha. É preciso extrapolar isso, é preciso que os diferentes pesquisadores venham conversar entre si para que a gente possa gerar efetivamente não só recursos, não só metodologias, não só métodos, mas que a gente possa atender esse movimento dentro da sua complexidade. Essa conversa, esse diálogo, se fazem necessários e urgentes”, finaliza Jaqueline.

Fonte: Secom UFG

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