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Seminário aborda lutas políticas e práticas emancipatórias

Em 21/09/18 15:18.

Primeira mesa-redonda do evento buscou discutir o papel da antropologia no contexto social atual e ressignificar o conceito de resistência a partir do exemplo das chamadas “lutas minoritárias”

 

Texto: Aline Borges

Fotos: Carlos Siqueira

A Faculdade de Ciências Sociais (FCS), no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS), realizou, na manhã desta quinta-feira (20/9), a abertura do Seminário de Antropologia Política “Insurgências: Lutas Políticas e Práticas Emancipatórias”. O evento, que reúne pesquisadores e professores de diversas universidades do país, começou com o objetivo de discutir ideias e compartilhar trabalhos produzidos no âmbito acadêmico em busca de uma politização mais precisa da vida universitária. Para abrir os diálogos, o professor da UFSCar, Jorge Villela, e a docente da FCS, Suzane Vieira, colocaram em pauta as “Insurgências Extemporâneas”.

faculdade de ciências sociais

No mini-auditório lotado, o tom formal de um debate acadêmico contrastava-se com os pés descalços cruzados sobre as sandálias do antropólogo Jorge Villela e com o pesar na voz da professora Suzane ao narrar a força que o nome do seminário adquiriu após o incêndio que destruiu o Museu Nacional, lugar por onde ambos os pesquisadores passaram durante suas formações. “As chamas do Museu Nacional podem ser um símbolo de destruição, um começo de destruição das universidades públicas, mas também pode ser um símbolo das insurgências que estão por vir”, afirmou ressaltando o atual desmonte das universidades públicas. E continuou ao reforçar que “nosso dia a dia na academia é de luta” e que “este é o momento de repensar e recriar formas de resistir”.

Neste sentido, Villela iniciou sua participação relembrando o “assassinato do Museu” e como esse fato sinaliza para o contexto social e político no qual o país está imerso. “A questão é como a gente vai fazer para aprender a viver politicamente em meio às ruínas. Esse verso da música do Bob Dylan, Masters of War, ‘...but build to destroy’ (... a não ser construir para destruir, em livre tradução) precisamente é a grande prática do capitalismo militar, que aparece desde a Guerra do Golfo”. Assim, o antropólogo dá os primeiros sinais sobre os rumos que o seminário tomaria e destaca que o que vive-se hoje é uma “confiscação dos mundos possíveis”, ou seja, uma barreira construída pelas estruturas de poder sobre a percepção e discernimento sobre o mundo.

Suzane, nesta perspectiva, coloca a resistência como um ato necessário para sobrepor aquilo que chama de bloqueadores do movimento de criar vida. Esses movimentos seriam os próprios atos de resistência social. Para ela, resistência e subversão tem significados diferentes. A resistência seria uma prática cotidiana, uma luta por uma maneira de viver contrário às ações capitalistas de poder responsável pela criação de possibilidades de vida. A antropóloga afirma que pode experimentar esses outros sentidos de resistência quando, enquanto pesquisadora, realizava um trabalho de campo com o povo Quilombola no Alto Sertão de Caetité.

Seminário de Antropologia Política

Lutas da singularidade

“Os antropólogos distinguem-se dos outros pesquisadores por prestarem atenção, mais ainda, por conferirem dignidade”, explica Villela ao falar sobre a razão de ser da Antropologia. O pesquisador ressaltou o caráter que essa ciência têm de enxergar nas lutas minoritárias, nos modos de vida e existência de comunidades ou coletivos aquém ao poder, a possibilidade de construir uma ética da coletividade a partir dos enfrentamentos desses povos em busca de autonomia.

Foi nesse movimento que Suzane cruzou o caminho dos Quilombolas no Alto Sertão de Caetité. A antropóloga propôs-se a compor uma etnografia do povo que via-se em meio aos jogos de poder de uma empresa energética explorando uma mina de urânio radioativo. “Esse algo que vem de fora, que nomeamos provisoriamente de resistência, toma forma e consistência no encontro do dispositivo etnográfico e no agenciamento das pessoas no campo dos quilombolas, que era o da pirraça, nome dado a essa maneira de não obedecer”.  expõe. Enfim, o debate buscou compreender essas formas de resistência populares, sociais, que incomodam o poder e resistem, insurgem em meio às ruínas do descaso.

Ao todo, quatro mesas-redondas foram compostas em dois dias de evento, que discutiram temas como política, ética e estética do bem-viver, territórios existenciais e práticas emancipatórias.

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