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Um novo olhar para a abordagem do suicídio

Em 15/06/18 11:15.

Painel de debates aborda novas formas de pensar a prevenção do suicídio e soluções para o tema

Texto: Selina Jania

Fotos: Giana Moreira

 

A Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Faculdade de Letras (FL), em parceria com o Instituto Bem Positiva, promoveu na manhã desta quarta-feira (13/6),o painel de debates “Formas de prevenção ao suicídio – Múltiplos Olhares”. O painel teve como objetivo propor ao público um “olhar de amor à humanidade”, ressignificando a forma de tratar um assunto tão complexo como o suicídio na sociedade.

Conduzido por Myrela Brasil, o painel contou com a participação do instrutor e mentor da Comunicação Não Violenta (CNV), Fábio Santos, com a psicóloga clínica, Dayanne Godinho, com o psiquiatra e constelador, Dhin Ally Untar, e o logoterapeuta e analista existencial, Sam Cyrous. Seguindo a abordagem humanizada, enquanto o painel não se iniciava, os participantes tiveram o seu tempo de espera ambientado pelos sons das cordas do violão tocado por Estêvão Daltro. Na abertura do painel, o público foi presenteado com a apresentação da aluna de Musicoterapia, Bruna Brasil, interpretando a canção “Maior" de Dani Black.

Segundo dados apresentados por Dhin Ally, o Brasil teve uma taxa de 40% de aumento de casos de suicídio registrados entre 2000 e 2010. A cada suicídio consumado, três pessoas tentaram, cinco planejaram e 17 pensaram em se suicidar. Para o psiquiatra, ver o suicídio com uma perspectiva de julgamento moral é um dos fatores que influenciam no aumento das estatísticas. “Podemos afirmar que 90% dos casos de suicídio são de pessoas com transtorno mental identificável e poderiam ter sido diagnosticadas e tratadas”. O psiquiatria vê o suicídio como resultado do agravo da saúde e adoecimento do indivíduo, sendo totalmente possível de ser prevenido.

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O transtorno mental mais comum diagnosticado em casos de suicídio é a depressão, em maior parte associada ao alcoolismo, seguida pela esquizofrenia. “Por incrível que pareça, pessoas que apresentam transtornos de ansiedade e pânico se suicidam menos, por causa do temor e por aquilo que irá acontecer depois. A pessoa que apresenta vazio existencial, tristeza e não tem temor, se encorajam com facilidade para cometer o suicídio”, explicou Dhin Ally sobre fatores agravantes para o suicídio. Segundo ele, quem está passando por um processo depressivo tem uma visão alterada da realidade. Aquilo que é visto como negativo, como a dor, são potencialmente amplificadas. “Fecham-se os olhos para o lado positivo da vida e abre-se só para as mágoas, para as dores”, resumiu o psiquiatra.

Para Sam Cyrous a estatística apresentada pelo psiquiatra Dhin Ally é alarmante e questionou os porquês do aumento dos números de casos de suicídios em períodos como férias, domingos e feriados . Para ele os momentos de vazio, quando não se sabe o que fazer com a vida, são potencializadores para o aumento de suicídio. “Quem tem um porquê enfrenta qualquer como”, completou explicando a necessidade de preencher o vazio, propondo a aprendizagem e busca pelo sentido da vida através das próprias vivências e dores.

A psicóloga Dayanne Godinho complementou que é preciso considerar os fatores biológicos, psicológicos e socioculturais para as causas do suicídio. “É muito comum escutar ‘se matou por causa do jogo ou por causa da internet’, como se houvesse apenas um motivo”,  alertou a psicóloga sobre a simplificação que se dá socialmente às causas do suicídio.

 

Infância e Suicídio

A segunda maior incidência de suicídios se encontra na faixa etária de criança e adolescentes. A psicóloga alerta a importância de identificar no indivíduo, ainda em fase de desenvolvimento, se há a predisposição ao suicídio. Ela alerta que o conteúdo de cyberbullying, como a “baleia azul", são facilitadores do desejo de morrer em quem tem a predisposição, pois a procura por esse tipo de “apoio" na internet, está associada a necessidade de dar vazão ao que já está interno ao indivíduo, principalmente quando este se encontra em uma rede de apoio familiar desfalcada.

Possuir vínculo afetivo, como trabalho, ter família e filhos, são fatores de proteção para o suicídio. para a criança, a prevenção, segundo Dayanne, se inicia antes do nascimento e logo depois, em ouvir a criança e suas necessidades não atendidas. Segundo ela, é necessário reaprender o diálogo com as crianças, uma vez que por esse mecanismo se cria um ambiente que transmite segurança e proteção. Precisamos descobrir algo que a gente ame, uma causa maior que nós, que podemos influenciar positivamente nos outros e possa mudar o mundo.” concluiu Sam Cyrous.


Suicídio na mídia

Em muitos países o código de ética, adverte a não divulgação de suicídios na grande mídia, principalmente pela alegação do efeito “Werther", em que divulgar um suicídio pode levar a outro suicídio, principalmente quando explicitado o “como" foi feito. Porém, para Sam Cyrous manter o silêncio sobre o assunto gera um tabu. “É um ciclo: não se comenta, não se fala e, também, não se faz nada a respeito”, afirmou. Segundo Dhin Ally, o suicídio mata mais do que a AIDS no Brasil, porém as políticas públicas de prevenção são bem escassas quando se trata do tema.

Mas como falar sobre suicídio na mídia? O terapeuta diz que a solução está na forma que se constrói a narrativa jornalística. “É necessário celebrar a vida ao invés da morte, o que essas pessoas fizeram de belo e maravilhoso quando em vida.” explica. Já Sam Cyrous, pondera que é importante não focar e especular a forma que o suicídio foi feito, como já aconteceu em vários caso de personalidades midiáticas, o que pode gerar como consequência o “efeito Werther”, pois as narrativas têm o poder de se transformarem em realidade.

 

Valorização da vida

Fábio Santos entende a comunicação como algo que conecta duas humanidades. O ser humano tem a necessidade expressar honestamente, sem medo de dizer quem realmente é. Os serviços do Centro de Valorização da Vida (CVV) estão justamente focados em oferecer uma comunicação que não cause a violência no outro, através de uma escuta empática e sem julgamento. “Muitas pessoas ligam no CVV só para dar um boa noite, tamanha é a solidão do ser humano hoje em dia. E aquele boa noite é a pequena quantidade de vitalidade que ela tem para ir dormir e amanhecer no outro dia", exemplificou.

Fábio Santos, em sua fala, convidou a Universidade à aplicar a filosofia da CVV no espaço universitário. “É preciso propor um lugar onde alunos, professores e outros funcionários tenham um espaço pelo qual possam encontrar a qualquer momento alguém disposto a oferecer uma comunicação não violenta”, complementou.

 

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Fonte: Secom/UFG

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