noemialimasilva

Qual é o papel da universidade diante de uma sociedade que envelhece?

Em 07/12/17 18:16.

Questão permeou debate que contou com a participação de Noêmia Lima Silva, da UFS

Texto: Patrícia da Veiga

Fotos: Ana Fortunato

O Brasil possui 26,3 milhões de pessoas com 65 anos ou mais e a tendência é que esse grupo aumente de forma contínua nos próximos anos. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2030 os idosos serão mais de 13% da população. Nesse mesmo período, para cada 100 adolescentes existirão cerca de 76 sujeitos com idade entre 65 e 90 anos. Em 2000, esse índice era de 18,66. A sociedade envelhece de modo irreversível e assim uma pergunta se faz inevitável: qual é o papel da universidade, que não está apartada do social, diante desse fato?

A questão foi discutida na quarta-feira (6/12), no Salão Nobre da Faculdade de Direito, durante evento realizado pelo Núcleo de Ensino, Pesquisa e Extensão em Envelhecimento da Universidade Federal de Goiás (Nepev/UFG). O objetivo foi promover um diálogo entre as áreas de conhecimento, as unidades acadêmicas e as instâncias administrativas, pensando em ações transversais que contemplem, entre outros aspectos, o que consta no capítulo V do Estatuto do Idoso (que dispõe sobre o dever institucional de garantir educação e cultura às pessoas com 65 anos ou mais).

Na oportunidade, Noêmia Lima Silva, professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e coordenadora do Núcleo de Pesquisas e Ações da Terceira Idade (Nupati)ministrou palestra apresentando as experiências de Aracaju no que diz respeito à inclusão desse público na rotina educacional. Para ela, o envelhecimento é um processo de toda a vida e, portanto, as medidas tomadas não devem ser pontuais. Ou seja, é preciso preparar as universidades para que estas, em longo prazo, deem conta da crescente demanda por formação, socialização e bem-estar que os sujeitos têm ao envelhecer. “Criem ações para os idosos de hoje, mas considerem também os jovens, que envelhecerão amanhã”, aconselhou. 

Noêmia destacou que o principal papel da universidade pública, em sua opinião, é formar para empoderar, ou seja, dar condições para que as pessoas se tornem autônomas e capazes de lutar por seus direitos. Nesse sentido, sua principal defesa foi o retorno dos idosos à sala de aula. “Isso é bom para a sua sociabilidade, a manutenção de sua mente ativa e seu bem-estar socioemocional”, definiu.

A UFS abriu suas portas oficialmente aos idosos há 20 anos, quando começaram a oferecer matrículas especiais em disciplinas isoladas, mesmo para aqueles que não haviam terminado o Ensino Médio. Paralelamente, a instituição ofereceu suporte a esses alunos, para que se preparassem para supletivos e vestibulares. Hoje está instalada ali um braço da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati), conforme prevê o Estatuto do Idoso. “O interesse foi tanto que, agora, eles estão se organizando para exigir os seus diplomas”, comentou. Os alunos idosos da UFS não são regulares, mas discutem atualmente essa possibilidade.

noêmia lima silva 2

Professora da UFS defendeu inserção do idoso nas universidades a partir do conhecido tripé "ensino, pesquisa e extensão"

Preconceito

Não foi fácil”, comentou a palestrante. Muitas rupturas precisaram acontecer para que os idosos fizessem parte do tripé ensino – pesquisa – extensão da UFS, algo que Noêmia considera imprescindível. “O imaginário social da velhice é centrado em uma visão estereotipada de incapacidade e inatividade, como forma perversa de exclusão social”, avaliou.

Duas dessas transformações ocorreram em sala de aula: os idosos foram inseridos às disciplinas considerando suas experiências de vida e também a intergeracionalidade (possibilidade de diálogo e convivência entre pessoas de múltiplas idades). Isso fez com que, aos poucos, eles fossem encontrando seu caminho e se aproximando de atividades regulares e também complementares. “Mas, ainda hoje enfrentamos professores que resistem, que dizem que o lugar do idoso não é na universidade”, observou.

Providências

Ao final da fala de Noêmia, professores, técnico-administrativos e estudantes de diversas unidades formaram um grupo de trabalho para listar possíveis iniciativas a serem tomadas pela UFG. Consenso entre eles foi que a Universidade, de fato, precisa receber mais idosos em suas atividades regulares. Para tanto, foi pontuada a necessidade de se reformular o Programa UFG Inclui, bem como as ações afirmativas. Todas as sugestões foram registradas em um documento que será entregue ao próximo reitor, Edward Madureira Brasil, em 2018.

plateia_envelhecimento

Público demonstrou interesse pela temática e formou um grupo de trabalho para propor ações para a UFG

Fonte: Ascom/UFG

Categorias: Última Hora envelhecimento Estatuto do Idoso